Dentro de mim há o desejo extraordinário de horizontes sempre novos. E de buscá-los. Atrás dessa errância com espírito aventureiro – aventura aqui no seu sentido de descobertas – deixo-me levar pela total liberdade, livre de guias e das inúmeras recomendações sobre lugares, E, aí surge o acaso, e é ele que vai surpreender e dirigir a minha viagem. Foi o que aconteceu em Oslo.
Uma foto no jornal, ‘VG’, deixado no Cin Cin Café, enquanto saboreava uma pilsner Aass, prendeu minha atenção. A imagem poética e misteriosa de uma ponte retorcida retratava o novo museu (Twist Bridge) recém-inaugurado ao norte da capital norueguesa. O formato incomum, como de uma toalha torcida, me mostrou que tudo na arquitetura é possível. Mordi a isca para conhecer aquela obra de arte que mudou meus planos de permanecer em Oslo.
No dia seguinte, bem cedo e ainda com a imagem impactante na cabeça, tomei a E16 para a cidade de Jevnaker (65 km de Oslo), onde se localiza o museu. Mas, não me apressei, pois a estrada é ‘muito’ Noruega e proporcionou a panorâmica da natureza daquele país. Contornei o fiorde Tyri, cruzei com casas de telhados coloridos ou cobertos de grama que instigam conhecer por dentro, e prados riscados de cereais com coloração sobrenatural, pois no outono o sol surge de repente e some repentinamente criando uma iluminação inenarrável (pelo menos para mim), o que me obrigou parar várias vezes para fotografar.
Mas o melhor ainda estava por vir. Num espaço de natureza privilegiada de bosques, rios, o que de cara me causou espanto foi o enigma da neblina que envolvia o museu Twist. Tive a impressão que ela fazia questão de ser vista como parte daquela obra de arquitetura. Na manhã que ali permaneci, a névoa não se dissipou, mesmo quando o sol surgia, não abria brechas em sua fina atmosfera.
Depois do choque da paisagem, gerou deslumbramento a arquitetura do Twist, o impressionante museu de arte cuja estrutura – combinação de painéis de vidro e alumínio – liga duas galerias de arte distintas, servindo de ponte entre as margens do rio Randselva. Se a visão externa me encantou, o interior amplo e único para exposições, forneceu uma ilusão nas próprias palavras do projetista dinamarquês Bjarke Ingels: “ quando você atravessa correndo o viaduto “torcido” da galeria, que se estende por cerca de 90 metros sobre o rio, parece que a parede se torna teto se torna chão” . Não precisei correr (não pegaria bem, certo?), mas andei bem rápido e a magia se fez.
Mais outra bela surpresa me aguardava. A foto no jornal, que me levou até lá, falava unicamente da inauguração do Twist. Só que esse museu de arte moderna se localiza no interior do maior parque de esculturas ao ar livre da Escandinávia, o Kistefos Sculpture Park. Obras do escultor indiano Anish Kapoor, do artista dinamarquês Olafur Eliasson (presente em 2011 na Pinacoteca SP), do artista japonês Yayoi Kusama, estão entre as mais de 40 esculturas, no meio de uma paisagem com ecos da Toscana, ou mesmo da nossa Serra da Canastra.
E, por falar nela, a região de Jevnaker tem forte herança agrícola, e a dica para um ótimo lanche partiu de uma moradora local. Nas proximidades, cerca de três quilômetros, o Thorbjørnrud Hotell possui uma queijaria que produz um delicioso cheddar e queijo de ovelha azul no local onde antes era o histórico hotel Jevnaker, que remonta ao século 14.
E para você qual é o convite à viagem? No meu caso foi uma foto de jornal abandonado na cadeira de um bistrô. Mas por trás daquela imagem havia o conceito que dedobrou paralelos instigantes entre viajar, apreciar a natureza e as obras de arte.
Para saber mais: O Museu Kistefos e a Twist gallery fica fechado no inverno, e reabre em maio. Já o Parque de Esculturas Kistefos está aberto o ano todo. A entrada custa 150 Coroas Norueguesas (em torno de US$ 17).
*Matéria publicada originalmente em nosso blog Viagens Plásticas do Viagem Estadão