Meus olhos estão voltados para três monges com túnicas acinzentadas que aceitaram respeitosamente as refeições colocadas à sua frente. Mas não as tocaram durante todo o trajeto do voo de Los Angeles a Taipé. Depois eu soube que eles não se alimentam após o meio-dia; mas recusar comida é ofensa. Menos de um metro de distância um do outro, e no entanto ao redor deles giram um mundo completamente diferente do meu. Esses monges sentados ao meu lado foram o primeiro cartão de visitas de Taiwan.
Com essa apresentação parti para conhecer os templos. As crenças religiosas mais importantes da China são o Budismo, Taoísmo e Confucionismo. Os templos, por sua vez, são também um convite para se admirar a arquitetura religiosa chinesa.
A ornamentação no interior dos templos é primorosa e expõe um ‘over’ de cores que incluem a pintura multicolorida, a cerâmica e esculturas em madeira, pedra e argila. O dragão, que simboliza poder e espírito na cultura oriental, e a fênix estão em quase toda parte.
Há uma outra particularidade que me impressionou muito. As linhas curvas dos telhados voltados para cima são marca registrada de quase todos os templos. Como se fossem estruturas prontas para alçar voo e nos levar ao céu. Seria essa a ideia?
Durante o dia e a noite acontecem nos templos celebrações e cerimônias de oferendas de flores e frutas aos deuses, mas é à noite que o templo adquire uma atmosfera vibrante: incensos enevoam a luz de centenas de velas criando uma iluminação difusa e incomparável; o som, como música encantada, é os das pequenas peças de bambu em formato de meia-lua, que são lançadas ao solo para se receber a instrução dos deuses.
São os “pua pei”, pecinhas que representam o yin e o yang.
Primeiramente a pessoa deve pensar em um desejo ou uma orientação a seguir. Depois joga os “pua pei” no chão até três vezes para que as elas caiam uma voltada para cima e a outra para baixo – formando assim o símbolo do yin e do yang. Caso isso aconteça, a pessoa deve retirar uma das varetas colocadas em um pote. Cada uma delas tem um número inscrito em caracteres chineses, e com esse número ela retira de um armário um poema correspondente, cujas palavras indicam a resposta ou o caminho para realizar o pedido.
São belos e misteriosos os templos chineses. Impossível não ser envolvido pelo sublime quando se andarilha por seu interior. É o que se sente no Templo de Lungshan, na capital, construído em 1738, ou no Templo da Grande Matsu, em Tainan, que data do século 17, onde os fiéis vão orar e pedir bênçãos.
Além de deusa Matsu, ali são também reverenciados deuses menores que representam o relâmpago, o vento, a chuva, as montanhas, os rios, as terras cultivadas, como resultado de uma combinação de temor e reverência à natureza.
Matsu, Deusa do Mar, e protetora dos marujos e pescadores é a divindade mais venerada de Taiwan e também da China Continental.
Sua veneração começou há mil anos. Há várias versões sobre sua divindade, mas quase todas se rendem a história de que um tufão causou o naufrágio do barco e a morte do pai e irmãos de Matsu. De tanto rezar para eles, adormeceu, e no sonho conseguiu trazê-los de volta vivos para a praia. E isto se tornou realidade. A parir desse milagre os pescadores e aldeões chineses passaram a reverenciar Matsu.
Quem leva:
Não existe voo direto entre São Paulo e Taipé (Se existisse a viagem duraria em média 23 horas, e lá são 11 hora a mais). A melhor opção para chegar é por intermédio de uma agência de viagem. A Receptur, www.receptur.com.br, tel. 11-3259-4066, representante da China Airlines no Brasil (Cia Aérea Taiwanesa), oferece também viagens personalizadas.