Os indígenas Caranqui e os Quéchua, do Equador, preparavam em tempos idos uma “sobremesa ritual” utilizando o gelo dos glaciares andinos. Os hieleros partiam de sua aldeia ainda na madrugada, escalavam a montanha durante horas enfrentando baixas temperaturas e ventos fortes até chegar as geleiras para retirar o gelo utilizado no divino manjar. Este elaborado acrescentando frutas e mel era servido em festividades especiais com a finalidade de reanimar o espírito.
Esse costume gastronômico ímpar perdura até hoje em várias cidades equatorianas. O ‘sorvete nevado’ virou paixão coletiva e não tem mais hora para ser consumido. Sua receita quase se perdeu, mas a tradição continua em Ibarra, a 100 km ao norte de Quito.
Na sorveteria, ele é preparado na frente do freguês. A fruta vai dentro de uma bacia de bronze envolvida com o gelo retirado do vulcão Imbabura, sal grosso das minas e palha. Então é só bater vigorosamente que em segundos o sorvete estará pronto. Só mesmo provando para entender sua cremosidade.
Agende-se: a Sorveteria Rosalia, em Ibarra, produz o sorvete há 130 anos.
Atualmente, porém, em todo o Equador, apenas dois hieleros enfrentam o rude trabalho dessa tradição ibarreña.