No interior do reluzente ônibus vermelho aproveitei o curto trajeto de trinta minutos de Basiléia, na Suíça, até Weil am Rhein, já em território alemão, para saber mais sobre o meu destino: o Vitra Campus. Os folhetos apresentavam o Vitra como “Parque de Arquitetos”. Ele fora idealizado pelo proprietário dessa renomada indústria de móveis, Rolf Fehlbaum, que após um grande incêndio em 1981, destruiu todo o antigo complexo industrial.
O que mais me chamou a atenção no folheto, porém, era que os novos edifícios para as linhas de produção, museus, lojas e salas de exposição traziam a assinatura de arquitetos selecionados por Fehlbaun em várias partes do mundo e até então quase desconhecidos. Hoje, porém, Nicholas Grimshaw, Frank Gehry, Zaha Hadid, Álvaro Siza, Tadao Ando, Jacques Herzog e Pierre de Meuron, além do escritório japonês SANAA se destacam como profissionais de grande expressão e força visual, além de quase todos serem premiados com o Pritzker, espécie de Nobel da área.
Passeando pelo Campus concordei com a definição de Fehlbaum… “o conjunto de edifícios é uma “collage architecture”. Eles se localizam lado a lado, e todos são marcados pela ousadia. Não há confronto, mas surpreendente diálogo entre as obras. Elas se apresentam como o eldorado para os amantes da arquitetura, pois em um único espaço, e rodeados por fazendas e vinhedos, as obras valorizam a cultura arquitetônica.
Olhando em 360º sinto que aquelas construções são como objetos colocados para decorar a paisagem. Ali dá até para discutir sobre os rumos da arquitetura contemporânea.
Propondo um diálogo direto entre o Vitra e os visitantes, Fehlbaum, mandou construir, sob projeto de Gehry, um museu, cujo acervo é tido como a maior coleção particular de móveis e objetos de design do mundo (maior inclusive que a do Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMa). Ali estão expostas cerca de 6.000 peças. Desde uma cadeira de balanço feita por um anônimo em 1800, passando por sandálias japonesas, carrinhos de serviço para aviões, bolas de bilhar até luminárias, sofás, estantes, enfim a essência do melhor que foi produzido em 60 anos de design internacional.
O ‘Campus’ exibe construções que são marcas visuais, e a ideia é a de que nenhum prédio domine a paisagem. Mas para mim o troféu vai para o Vitra Haus, o showroom da fábrica. Desenhado pela dupla suíça Herzog & De Meuron, o prédio é composto de 12 casas sobrepostas, interligadas e voltadas para diferentes lados. Os cinco andares são um espaço inspirador onde os apaixonados por design podem comprar aquele toque especialíssimo para decoração, como luminárias, almofadas, relógios, e móveis dobráveis ready to go.
No térreo, além de um Café decorado com a ‘Nuvem’, uma grande luminária desenhada por Gehry, fica a lojinha. Quem está em viagem pode levar itens pequenos como canecas, talheres, suportes para flores, almofadas, e miniaturas das mais famosas cadeiras do mundo do design. Em destaque e para minha alegria encontrei a nossa Melissa desenhada pelos irmãos Campana, a cadeira “Favela”, também dos irmãos brasileiros, e as bonecas de pano da cidade de Esperança, na Paraíba. Especiais são os coloridos bonecos de Alexander Girard, e as lúdicas criações de George Nelson, que certa vez filosofou: “O designer não transforma uma vida pequena e sombria em uma vida grande, brilhante e colorida. Apenas quem curte a vida pode fazer isso”.