Viajei para Viena afim de conhecer a obra do artista Hundertwasser, precursor dos ‘refits’, aquela repaginada que muda a cara dos edifícios e das casas. Amante das cores e das linhas orgânicas, Hundertwasser ansiava por dar vida nova aos feiosos, cinzentos e tristes edifícios da cidade.
Logo ao chegar, leio na fachada de um de seus mais emblemáticos prédios de Viena, uma frase que define a dimensão da vital necessidade de arte por ali: “para cada época sua arte. Para arte a liberdade”.
E, eu me pergunto se estou imbuída dessa liberdade. Afinal, viajei somente à procura de um artista cuja obra admiro. Então, resolvo que vou curtir tudo. Depois de arruar por todo lado, tenho em mente outra pergunta: consigo definir Viena em uma única palavra? Fácil: Música, apesar de Mozart ter nascido na vizinha Salzburgo, o compositor e Viena são indissociáveis. Mas, eu poderia associar Viena também a Cafés ou Castelos. Melhor ainda a Torta de Chocolate! Korrekt, certo. Alguém me assopra Cores? Ganz richtig, corretíssimo. Em Viena cor e arte estão por toda parte.
Pinturas vibrantes cobrem as laterais dos trens que viram um convite ambulante e instigam a conhecer as obras dos artistas austríacos nos museus da cidade.
Cores sobem pelas fachadas dos edifícios, alcançam tetos e até mesmo telhados. Nem a gigantesca usina de reciclagem de lixo, a Central Térmica de Spittelau, escapou da sanha colorista de Hundertwasser.
Agora vou conhecer mais sobre Friederich Hundertwasser (1928-2000). Há um singular museu que abriga suas obras, o Kunst Haus Wien. Em seu interior o piso é desnivelado e irregular, pois o artista afirmava que “na natureza não existe a linha reta”.
Em muitos edifícios de Viena, ele emoldurou janelas com alegres tons de rosa ou de azul, aplicou pastilhas, ladrilhos e diferentes elementos decorativos com desenhos ondulantes. Inventou sacadas, cúpulas em forma de cebolas, colunas que sugerem peças de um jogo de xadrez e ainda acrescentou divertidos ‘puxadinhos’.
Sabe o leitor por quê tantas cores pincelam Viena? Culpa dos sonolentos dias nublados do inverno que despertaram a fome de cor em artistas como Schiele ou Gustav Klimt, tido como o maior dos pintores do período art nouveau. Klimt na tela “O Beijo” irradia dos amantes um esplendoroso amarelo salpicado de grafismos, e ainda os envolveu em ouro puro.
Antes de partir dessa bela cidade, reservei uma noite para assistir aos concertos. E, principalmente não deixei de ir aos bailes que acontecem nos amplos salões espelhados para dançar e rodopiar nas asas da valsa, essa vienense música “pictórica”.
Saiba mais: www.vienna.info
* Reportagem publicada originalmente no blog Viagens Plásticas do Viagem.Estadao