De onde nascem as viagens?, perguntou um barbudo de turbante à filha. “Dos medos e desejos dos homens”, ela respondeu. “E para que servem?”, insistiu. “Para nos ajudar a sobreviver”, respondeu. A menina se chamava Scheherazade.
Esta historinha não consta do livro ‘As Mil e Uma noites’, mas retrata muito bem como Ler e Viajar é quase a mesma coisa, pois lemos e viajamos para entendermos melhor a vida, para compreendermos o outro e, assim decifrarmos a nós mesmos.
É por isso que o primeiro livro que indicamos é muito mais que a viagem como destino, mas a verdadeira transformação que ela causou ao viajante.
1- Sai da Microsoft para mudar o mundo, de John Wood, (editora Sextante)
Não pense que ele foi pretensioso nesse título. Ele foi um dos muitos viajantes que ao viajar perceberam que seu mundo era outro.
A epifania de John Wood, um dos cinco principais executivos da Microsoft, se deu literalmente à beira do abismo, de desfiladeiros, rios caudalosos e cânions do Everest.
A viagem teve marca de rito de passagem, mas com certeza o sinal de desvio de rumo de Wood, teria sido percebido por ele em qualquer outro lugar. Depois de nove anos sem férias e com dedicação férrea ao trabalho, Wood, resolveu fazer, em 1998, um trekking no Nepal e se desligar do mundo por 21 dias. Até aquela data o mais próximo da palavra turismo para John, foram os “tour de force” com concorrentes “barra-pesada”, do porte de uma IBM.
Não vamos dar spoiler, mas a viagem foi transformadora a ponto dele abandonar a Microsoft assim que voltou para casa e fundar, hoje, a prestigiosa ONG “Room to Read” que se dedica a criar bibliotecas em escolas carentes principalmente no sudeste asiático
2- Marca – D´Água, de Joseph Brodsky, Editora: Cozac Naify
Ahh Veneza!! Falar de Veneza para mim é puxar sardinha. Meus avós maternos vieram de lá. Mas lá não tem sardinha e sim sereias. Segundo o poeta Gabrielle d’Annunzio as vênetas escondiam uma cauda de sereia embaixo dos vestidos.
Quem a viu não a esquece. Goethe definiu a cidade como um furacão de beleza.
Viajar para conhecer Veneza pelas mãos de Brodsky, Nobel de Literatura em 1987, não vai, literalmente, por água abaixo. Com sua observação pertinaz, não espere descrições detalhadas, informações úteis, erudição. A cidade é pura sedução pelo modo como oferece acesso ao seu passado. Brodsky compartilha com o leitor ideias, imagens, passeios, humor, leveza e também sarcasmo. Mas sobretudo a beleza da “Sereníssima” dos poetas.
3- Diego e Frida, de J.M.G. Le Clésio, editado pela Record
Biografias são meus gêneros preferidos de leitura. Porque muitas me incentivaram a viajar, a saber mais, e seguir as pegadas da vida de quem acompanhei nas páginas do livro. A narrativa de uma biografia me obrigou a rapidamente fazer as malas: Diego e Frida
A vida desse par – tão ímpar – pode ser revivida na casa onde ambos moraram no bairro de Coyoacán, Cidade do México. Quando Frida partiu, ele não quis que a casa se tornasse um museu, mas um santuário. Uma casa aberta onde cada um pudesse receber um pouco da beleza que emanava de Frida, e que havia impregnado as paredes, os objetos familiares, a paixão pela artesania e folclore popular, seus vestidos que ela usava como forma de valorizar a cultura das mulheres indígenas.
Tem gente que procura sarna pra se coçar, e para mim o escritor Le Clézio é um deles. Primeiro porque é o registro de um amor peculiar. Depois porque poucos países têm um casal sobre os quais a gente pode dizer: quer conhecer a verdadeira alma do povo mexicano? Então conheça Frida e Diego.
Para complicar ainda mais a tarefa de Le Clézio, ambos eram artistas em um intenso processo de transformação. E mais, o México por volta de 1930 estava reinventando tudo, e a arte dos muralistas explodia pelas ruas da capital em uma galeria de exposições. Pintar para ambos queria dizer viver. E utilizam em suas obras cores que falam das festas, dos mercados, do folclore, dos astecas, e revoluções camponesas.
O livro, fundamental para quem deseja saber mais sobre Frida e Diego, é essencial para ser lido antes de uma viagem à Cidade do México. Sem conhecer a história do País, indissociável da vida do casal, a visita à Casa Azul será incompleta, capenga, como saborear uma fruta especial, mas verdoenga.
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