Não existe o pós-pandemia, existe o agora. E no agora, devo viajar? E, para onde? A resposta fica rodando na minha cabeça. Seria bom, muito bom, se se já pudesse, de fato, falar sobre uma nova época, um novo começo, livre do covid-19, mas não! Especialistas que entendem do riscado ainda veem nuvens negras chegando. “Será longo nosso convívio com este coronavírus que ainda ficará por muitos mais anos”, afirma o médico Drausio Varella.
Viajar é algo que ambicionamos, queremos, e é importante para nossas vidas, no sentido de adquirir conhecimento, diversão e refúgio. E a maioria das pessoas vacinadas não vê a hora de pôr o pé fora de casa. Mas até que ponto estamos protegidos? Vacinas previnem a doença grave, mas os estudos não reforçam “o quão bem elas impedem uma nova infecção ou transmissão”, diz Paul Duplex, diretor do Center for Vaccine Research da Universidade de Pittsburgh.
Outro elemento desse ambiente confuso para os viajantes são as contradições entre o que almejamos e o que de fato somos e fazemos. Como será a viagem dos vacinados que se sentem mais protegidos, no encontro com outros que ainda não foram imunizados? A resposta viria sem culpa para países cujas populações na maioria já foram vacinadas, como os Estados Unidos, Inglaterra e Israel. Mas para estes e outros 100 países os semáforos estão vermelhos para entrada de brasileiros.
A viagem como expressão de um tempo sofreu uma profunda transformação durante a pandemia. Os principais assessores de tendências turísticas são taxativos ao afirmarem que o olhar para as grandes cidades e centros turísticos foi substituído pela vida ao ar livre em contato com a natureza. Céus estrelados, praias, mar, campos, florestas são a moda para os próximos anos.
Certo que a vida muda num instante, fico com jornalistas e agentes de viagens, representantes de grandes empresas turísticas nacionais e internacionais, que têm certeza que não pecam por serem otimistas quando falam em viajar.
Ana Davini que representa cadeias internacionais de hotéis e restaurantes, diz “que ainda que as viagens não sejam possíveis para muitos lugares ou recomendadas no momento, viajar também é sonhar com o destino. É envolvê-las com as histórias interessantes sobre a gastronomia, a cultura, fauna e flora, daquele lugar. E ir quando se sentir seguro”. Davini reforça que os produtos e destinos turísticos que representa seguem hoje os mais rígidos protocolos de segurança contra o covid-19
Para Claudio Oliva, assessor de imprensa de associações turísticas do Litoral Norte de São Paulo, Monte Verde, e outras nacionais e internacionais, afirma que “a viagem tem de ser avaliada, caso a caso. Ultimamente, as famílias quase que abandonaram as viagens aéreas, as excursões de ônibus ,vans e de navios, e trocaram esses meios, por viagens de carro. Ir para uma praia deserta, visitar uma pequena cidade na montanha, alugar uma casa ou escolher uma pousada em locais mais afastados dos grandes centros, pode ser uma saída desde que sejam bem programadas.”
Para Oliva, os grandes resorts, os navios, as viagens em grupo, e principalmente os eventos corporativos, estão na berlinda em termos de recuperação. E serão os últimos a se recuperar e ganhar do consumidor novamente a confiança no consumo de seus produtos. E completa: “temos de informar de maneira responsável os principais atrativos do destino, as preocupações dos meios de hospedagem com os protocolos de saúde e também, nos períodos onde o Comitê de Saúde proíbe viagens, sermos parceiros e não estimularmos os consumidores, instigando-os a consumir as viagens num período de rigoroso protocolo de segurança.
Na mesma linha de pensamento anterior, Roberto Silva, da Sanchat Tour, Operadora de viagens para Cuba, Caribe e México, concorda que nesse período de isolamento, primeiro verifica se o destino está aceitando brasileiros. Depois, se o viajante já foi vacinado, e os protocolos sanitários oferecidos pela região a ser visitada. Se for o caso recomenda ao cliente transferir a viagem para uma data futura. Silva orienta os clientes a só visitar destinos que deem garantia de receber os turistas para uma viagem segura, com seguro contra o coronavírus incluso no pacote turístico.
Então. Os viajantes estão conectados com o novo tempo?
“… não chora, não, meu bem, que dias melhores já vem”, como diz a música de Dona Ivone Lara.
*Matéria publicada originalmente no nosso blog Viagens Pláticas no Viagem Estadão