Sempre tive uma queda por lugares extremos, e dentre eles, as ilhas eram minhas preferidas. Todos os meus projetos eram feitos para alcançar, como por exemplo, Madagáscar, Reunião, Cabo Verde, Feroes, Páscoa ou Groenlândia. O que eu não sabia é que essas viagens demonstram que sou um caso típico de pessoa introvertida.
“Como tiramos férias revela muito sobre nós”. Esta foi a conclusão, com acerto superior a 80%, que psicólogos da Universidade da Virgínia, Estados Unidos, chegaram depois de entrevistar centenas de estudantes universitários, E ali estava descaradamente estampado em letras maiúsculas minha esquisitice: os introvertidos preferem as montanhas e as ilhas, e quanto mais altas e mais longe, maior o grau de timidez. Do outro lado do estudo os extrovertidos querem mesmo se esbaldar em uma praia.
Mas o que mais me chamou atenção nessa pesquisa foi a afirmação de que as pessoas são mais felizes quando estão planejando suas férias do que quando estão realmente viajando. Será? Você concorda, ou esses pesquisadores estão merecendo o IgNobel da Psicologia?
Uma vez que estou entrando na natureza dos viajantes não posso deixar de lado a crônica “O que quer um homem?”, de Contardo Calligaris. Essa sim me acertou em cheio.
Poder? Riqueza? Sucesso e fama? Conquistas amorosas? A resposta de Calligaris sem hesitar foi, “a aventura – o homem quer qualquer coisa, com a condição de que seja uma aventura”. Aventura aqui não deve ser traduzida por somente aquelas que se valem de um esporte radical, susto ou dores musculares. Mas também àquelas que provocam profundamente nossa imaginação e fantasias.
A afirmação de Calligaris se baseia nos livros do filósofo contemporâneo Giorgio Agamben, além do escritor Chrétien de Troyes que no século 12 escreveu uma saga sobre os cavaleiros do rei Arthur. Nos livros o que estava em jogo era a aventura para pôr à prova a valentia e a coragem.
Trazendo para os dias de hoje, o ideal da aventura é nos mostrar para que viemos e do que somos capazes. Aqui, reforça Calligaris: “a aventura (o que acontece) se confunde com o relato da experiência vivida e que vale a pena ser contada”.
Uma moral possível da história para os dias atuais é que o amor pode comprometer a aventura, que é o que mais importa para um homem, e Galligaris conclui com um conselho: “se você for um homem, não deixe que a vida conjugal se torne desculpa para ficar na cama; ao contrário, leve sua amada para a aventura junto com você”.
*Matéria publicada originalmente m nsso blog Viagens Plásticas, do Viagem Estadão.