Não está fácil se enquadrar neste mundo. Eu que gosto de viajar para lugares fora da curva, de todas as curvas, vejo paisagens de lugares que gostaria de conhecer, no mundo todo, devastadas. Rompimentos de barragens, incêndios, propositais ou não, desmatamentos, e mudanças climáticas em proporções inéditas. O que dizer então do impacto desses desastres nas pessoas que ali vivem? Para piorar, a pandemia do novo coronavírus nos obriga ao isolamento social.
Foi com a visão de um olhar aprofundado que o filósofo australiano Glen Albretch cunhou o termo “solastalgia” para definir o conjunto de transtornos psicológicos da angústia emocional e existencial causada pelas alterações ambientais.
“Ao contrário da nostalgia – melancolia ou saudade vivida por pessoas quando separadas do lar amado – a solastalgia é a angústia produzida pela mudança ambiental que afeta as pessoas enquanto elas estão diretamente conectadas ao seu ambiente natural”. O termo cunhado por Albretch vem do grego ‘solas’, que significa terra, e ‘algias’, dor.
Seus primeiros estudos se deram a partir de 2003 quando estudava os transtornos psicológicos e traunas nas populações indígenas, devido a alterações na natureza de seus territórios, causadas por ações destrutivas das atividades predatórias de mineradoras, ou bruscas mudanças climáticas. Tais alterações psíquicas, que se manifestavam na população local em forma de angústia, podiam levar a problemas de saúde, do abuso de drogas, alccolismo, doenças físicas e até mesmo a tendêncais suicidas.
A solastalgia tá pegando pesado nos norte-americanos da Califórnia que, devido aos extensos incêndios, perderam todos os seus bens, além do impacto da devastação da natureza. As pessoas estão sofrendo de uma depressão nunca antes vista pelo Serviço de Saúde do país.
Quando me deparei com o termo solastalgia? Quando vi o rompimento da barragem do Fundão – maior desastre ambiental do Brasil –, da barragem de Brumadinho, os incêndios no Pantanal, no Cerrado, na Floresta Amazõnica, na Chapada Diamantina, e outras devastações que machucam o mundo todo, causadas pela mão do ser humano, ou por mudanças climáticas. Eu buscava respostas de como as pessoas reagiam ao perder, de um dia para outro, seu espaço carregado de sentimentos, de belas experiências, quando me deparei com os estudos do prof. Albretch.
Mesmo diante dessas imensuráveis perdas, não é irrelevante destacar também o impacto da construção de um prédio que nos rouba o horizonte, o impacto das enormes torres eólicas que desfiguram aquela praia de dunas, ou de uma linha de transmissão de energia, que interfere de modo brutal na magnfíca paisagem.
Estaremos, então, todos fadados a essa síndrome?
*Assista os vídeos do Viramundo e Mundovirado
** Matéria publicada originalmente no nosso blog Viagens Plásicas do Viagem Estadão