Quando o avião se aproxima de Seychelles as imagens me remetem, à primeira vista, ao filme de Godfrey Reggio que no início dos anos 80, instituiu com “Koyaanisqtasi”, um tipo de documentário em que a natureza era o objeto privilegiado. Nele, víamos as paisagens com olhar de pássaros, mas a força do filme residia na impossibilidade de nos aproximarmos daquela natureza prístina e selvagem.
Nesse momento, antes da aterrissagem, tenho a mesma sensação do filme, e nem poderia ser diferente, pois aqui em Seychelles a natureza por si só é superlativa.
Todas as crianças têm poder feérico de se transformar no que desejam, certo? E por que só elas? Assim em meu devaneio, visto a capa do super homem e deixo-me levar num voo com roteiro semelhante ao de Koyaanisqtasi. Lá embaixo, imagino as pessoas admiradas tentando entender: é um alienígena? Um pássaro? O morcego gigante de mahé?
Começo sobrevoando aquele território, geograficamente retalhado em 115 ilhas. O registro visual é marcante e reforça minha aventura. Faço um looping sobre Mahé, a maior das ilhas de Seychelles. A visão surpreende. No seu perfil serrilhado de montanhas verdes cobertas por buquês de nuvens, sobressai o Morne Seychellois, cume mais alto da ilha.
Dá para observar escondidas entre a vegetação as trilhas que junto com as praias reluzentes de Mahé são a grande curtição entre os vaijantes, pois trekkings e cavalgadas levam aos cantos secretos da ilha. Algumas das plantas e dos animais ameaçados de extinção são encontrados ali, incluindo o sapo das Seychelles, menor do que unha humana, e a rara árvore-viva de medusa, que recebe esse nome porque suas flores são semelhantes às estrelas do mar.
Na minha fantasia, mas com um pé na realidade, faço agora uma curva de reversão de 45º para visualizar, a nordeste de Mahé, o Ste-Anne Marine Park que abrange seis ilhas rodeadas pelo oceano cuja cor muda de acordo com a incidência da luz. Ora azul turqueza, ou cobalto, ou ainda a cor mais predominante, pra mim um verde abacate, mas todas transparentes como cristal.
As ilhas são separadas por canais cheios de bancos de corais que proporcinam habitat perfeito para todo tipo de vida subaquática. Com a limpidez da água posso admirar ouriços do mar, sargentos listrados e peixes-papagaio brilhantes.
Depois de sobrevoar a ilha Cousin que se destaca pelas tartarugas gigantes, me desloco para Praslin, famosa pelas árvores de coco de mer, um coco amarelo maior do que uma bola de rugby. O que seria do estressado esquilo Scrat, aquele do filme a Era do Gelo, enlouquecido porque nunca conseguiria agarrar essa noz?
É surpreendente observar nessa inventiva viagem aérea o quanto ela transita entre paisagens sedutoras. Mas nada nessa batalha de imagens supera a visão da praia Anse Source d’Argent, numa enseada isolada em La Digue, terceira maior ilha das Seychelles. Ela não precisa de nenhum tipo de aprimoramento. Suas areias finas, com tonalidade quase rosa, faíscam de acordo com o sol, e se estendem entre um mar de tonalidade azul sei-lá-o-quê, e uma morraria caótica de rochedos de granito.
Seychelles, destino para viajar em sonhos