Atrás das esguias e negras gôndolas há uma história de quase mil anos. E para contar essa história, fomos para Veneza, a Sereníssima República e Porta do Oriente. Berço de grandes conquistas, essa cidade parece estar fora de nosso mundo, e assim como ela a gôndola não existe em nenhum outro lugar. Entre as versões etimológicas para a origem do nome desta embarcação, a mais sugestiva recorda que os bizantinos denominavam os venezianos de condostoli, isto é, navegadores com remos.
As primeiras gôndolas datam de 1094 e a técnica de sua construção permaneceu imutável até hoje, afirma Roberto Tramotin, a frente do estaleiro de San Trovaso, que desde 1880, pertence a sua família e é um dos dois que ainda permanecem construindo essa obra de arte. Tudo é feito à mão, diz Tramotin apontando, para uma das gôndolas em fase final de acabamento. Seu formato elegante e alongado de 10,5m de comprimento por apenas 1,4m de largura foi desenvolvido para transportar o maior número de passageiros pelos canais estreitos e rasos que formam o labirinto aquático dessa cidade. Há 700 anos existiam sete mil delas deslizando pelas lagunas e canais. Hoje não mais que 400, e todas turísticas.
Uma gôndola demora dois meses a ser construída com 280 peças de madeiras diversas, como limoeiro, carvalho, mogno, cerejeira, abeto, larix e olmo, e seu preço médio não sai por menos de 38 mil euros. Mas a madeira é tratada por até um ano antes de ser modelada.
O remo é fabricado de uma única tora de faia, que funciona como uma extraordinária alavanca. Outra notável peça de madeira é a forcola, esculpida de um bloco de nogueira que serve de apoio para o remo e para alterar a velocidade da embarcação.
É necessário colocar um contrapeso na proa, o ferro, pesada peça de metal com seis dentes horizontais, para equilibrar o peso do gondoleiro ( ou seja cada gôndola é projetada para um gondoleiro). Essa peça simboliza os seis bairros históricos da cidade e seu desenho lembra o chapéu dos doges de Veneza. A oficina de San Trovaso produz apenas uma ou duas gondolas por ano, usando as técnicas do passado.
Aficionados pelas competições de corridas de embarcações, os venezianos realizavam as regatas, palavra de origem veneta que se popularizou pelo mundo afora.