Essa é uma história que se lê como ficção, mas é realidade
Surpresas em viagens acontecem, mas algumas delas nos levaram a um mundo do tipo São Tomé – só vendo para crer. Visitávamos a Península Valdés, na Patagônia argentina, lugar de clima seco, árido e de vegetação rasteira, onde cataventos giram enlouquecidos. Fomos lá para mergulhar ao lado de baleias, golfinhos, leões-marinhos e pinguins. Sebastião Salgado, esteve lá também para fotografar essa beleza prístina para seu livro Genesis. Mas o que valeu mesmo para nós nessa viagem foi conhecer a inacreditável história de Roberto Bubas com as orcas.
Baleia assassina para mergulhadores, bicho-papão para leões-marinhos e filhotes de jubartes, as orcas têm uma fama ruim dos diabos. Mas para o guarda-fauna e biólogo argentino Roberto Bubas, não. Elas se tornaram amigas do peito.
O caso se passou na praia Caleta Norte – reserva marinha declarada Patrimônio Natural Mundial – onde acontece um fenômeno raro. As orcas desenvolveram ali uma técnica de sobrevivência denominada “encalhamento intencional”: aproveitando o vai-e-vem das ondas elas caçam leões-marinhos, um de seus alimentos preferidos, na beira da praia.
Bubas, na década de 1990 era o guarda-fauna do parque e tinha como uma das atividades identificar as orcas. Sem máquina fotográfica para registrá-las, ele entrava na beirinha do mar, às vezes até mesmo colocando sua cabeça dentro da água, a fim de observar e desenhar os detalhes de suas nadadeiras, um tipo de digital desses mamíferos, a maior da espécie dos golfinhos.
“Foi quando algo fascinante aconteceu. Depois de uma centena de minhas aproximações, elas começaram a vir cada vez mais ao meu encontro, produzindo sons, levantado a enorme cabeça para me ver, e deixando inclusive que eu as tocasse”, nos contou Bubas. Nenhuma outra orca selvagem antes se aproximara tanto de um ser humano.
Curiosidade? Desejo de se comunicarem? Por que elas nunca o atacaram, se caçam até baleias? Como explicar esse mistério? E tem mais! Num desses encontros, com 11 orcas, Bubas nota que uma delas tenta se achegar cada vez mais perto dele. “Eu senti que ela queria me entregar a alga que trazia na boca”, relata Bubas, que guarda como um tesouro – a alga emoldurada.
Um clima de mistério e alegria paira sobre a Península Valdés
Assista o filme “O Farol das Orcas”, filme argentino de 2016 sobre Roberto Bubas e as orcas