O café da manhã é minha refeição predileta. Em viagens, ainda mais. Imagine então na Suíça onde o breakfast é um banquete com queijos, iogurtes, pães e geleias artesanais, frutas e mel. Para finalizar um forte e aromático espresso.
O preâmbulo é necessário para que eu diga como estava bem, a perfeita versão de um Obelix de saia, quando deixei o hotel em Berna. Sentia-me radiante a caminho do museu para ver as telas de um dos meus pintores favoritos – Paul Klee.
O museu que abriga cerca de 4.000 obras do artista suíço, a maioria abstrata, nem abrira as portas. Aproveitei para giravoltear pelo entorno do moderno prédio em aço e cristal que flui sobre o gramado verde aquarela.
Desenhado por Renzo Piano, para muitos a estrutura sugere ondas ou três colinas. Desconfio que o arquiteto italiano tentou recriar o traço fluido de um pincel com tinta prata deslizando sobre um papel verde.
Dentro do museu, no amplo e envidraçado hall eu podia ver a primeira sala com os quadros de Klee. Dali mesmo já vislumbrava o ritmo das cores a pipocar, dançando nas telas. Emoção pictórica e musical ao mesmo tempo.
Foi quando, no melhor da festa, aconteceu – travei. Suava frio, os joelhos dobravam, e um vazio gigantesco ocupava meu estômago.
Um ataque fulminante de fome? Impossível pensei, mas, capengando fui até o café do museu. A atendente tentou justificar: “é muito cedo, nossos lanches chegam fresquíssimos todos os dias, ainda não temos nada”. Nada, nada? O eco das minhas palavras ampliava meu desespero quando vi, numa daquelas redomas de vidro, fatias de um bolo chinfrim e abandonado.
Uma hora e cinco pedaços depois, revivia. Enfim recomposta, pude me saciar das obras. Regalei-me! E ao final da visita, na lojinha do museu, me entupi de livros, gravuras, e postais de Klee.
Já em casa comecei a pesquisar sobre o esquisito piripaque que me pegou de supetão no museu.
Pois, não é que o chilique é defendido em teses, e até tem nome pomposo?
Síndrome de Stendhal, assim chamada porque o escritor francês Marie-Henri Beyle, (conhecido como Stendhal), foi o primeiro a dar voz aos sintomas. Ele amava viagens e arte, e pensou: onde posso juntar as duas? Florença, é claro, e se picou para a cidade da Toscana. Foi quando destrambelhou diante dos afrescos de Giotto:
“Absorvido pela beleza sublime, via-a agora de perto, tocava-a, por assim dizer … e eu caminhava com medo de cair.”
Todo viajante que bambeia aluado pelas ruas da bela cidade italiana, os carabinieri já sabem onde levá-los: Hospital Santa Maria Novella. Foi lá que a psicóloga Graziella Magherini de tanto atender os visitantes com piti, começou a estudar o assunto. E, as pesquisas rodaram o mundo.
O mistério e o fascínio exercidos por alguns lugares, somado aos personagens especiais que ali viveram, também desnorteiam e fazem pirar.
Em Jerusalém, por exemplo, o médico psiquiatra Dr. Kfar Shaul, estuda o estado psicótico que faz o paciente incorporar algum personagem bíblico.
Ele conta que certa vez havia três Virgens Marias dividindo o mesmo quarto.
Outro exemplo mais?
Uma amiga descobriu Frida Kahlo. Devorou tudo o que lhe caía nas mãos, livros, diário, foi às exposições, e voou para a Cidade do México. Foi direto para o bairro de Coyoacán, na Casa Azul onde o casal Diego e Frida viveram loucamente.
Êta lugar que facilita o surto! Frida está viva em todos os cômodos da casa, em meio aos seus quadros, roupas, móveis, fotos, coletes ortopédicos, e na cozinha com os enormes alguidares onde preparava os renomados moles. Dito e feito, minha amiga surtou. Andando pelo pitoresco bairro, comprou blusas, saias e até os brincos vistosos à la Kahlo, vestiu tudo, e postou no face. Choveram likes de quanto ela parecia uma reencarnada Frida.
E, eu postei: amiga, a arte embriaga, precisa ser consumida com moderação.
Acompanhe-nos também no facebook viramundoemundovirado e instagram @viramundoemundovirado