Calma lá, essa não é uma história sobre ecologistas que a pleno pulmões defendem baleias, ou retumbante desastre ambiental, mesmo porque preservar as paisagens é responsabilidade de todos os noruegueses.
De que berro vou falar então?
Já vai longe o tempo que o artista norueguês Edvard Munch (1863-1944), cujo quadro mais conhecido, “O Grito”, escreveu em seu diário: “Já é tempo de pararmos de pintar cenas interiores com pessoas lendo ou mulheres fazendo meias. Devemos criar pessoas vivas que respiram e sentem, sofrem e amam”.
A obra de Munch que admirei nos museus noruegueses se tornou símbolo da depressão e da angústia do homem moderno, da adolescência à velhice. O artista foi um dos expoentes do expressionismo, movimento artístico que ia contra mostrar apenas cenas bucólicas, e sim retratar emoções e sentimentos humanos. E, pensar que Munch focou os dramas e frustrações da vida há 130 anos, e continua cada vez mais atual.
Quero lembrar também a importância que “O Grito”, tem até os dias de hoje. Munch fez quatro versões desse quadro que retrata a boca de estranha figura que se abre em um grito perturbador. É umas das três obras de arte mais parodiadas do mundo: uma série de Andy Warhol nos anos 80, personagens do desenho animado, quadrinhos dos Simpsons, a máscara Ghost face, quase sempre utilizada em filmes de terror, ou mais recentemente na película ‘Extraordinário’, em brinquedos Lego, e ainda estampa canecas, camisetas, cadernos, guarda-chuvas, e até sapatos.
“Eu passeava com dois amigos ao pôr-do-sol, o céu ficou de súbito vermelho sangue…havia línguas de fogo sobre o azul escuro do fiorde e sobre a cidade. Eu tremia de angústia e senti o grito infinito da natureza”, escreveu Munch em 1892. Recentemente pesquisadores noruegueses afirmaram que as linhas amarelas, vermelhas e laranjas são nuvens estratosféricas polares que, de tempos em tempos, surgem nos céus do norte da Europa.
Mas, há outra curiosa suposição: as nuvens que Munch viu eram efeito da violenta erupção do Krakatoa que dois anos antes explodiu na Indonésia. As cinzas e os gases rodaram o mundo várias vezes e na luz solar do entardecer geravam efeitos óticos impactantes.
De infância marcada pela tragédia e pela doença, a seu pai que se opunha terminantemente que se dedicasse à pintura, Munch sofreu ainda com a dependência do álcool. Mas sempre buscou na pintura um meio de cura, de resolver seu caos interior, e mais, de transmitir algum consolo às pessoas que se sentissem desamparadas diante das angústias da vida.
É para isso que a arte existe.
Conheça as pinturas de Munch nos museus Munch Museum e no Nasjonalmuseet – Museu Nacional de Oslo – ambos na capital norueguesa.
* Matéria publicada originalmente no nosso blog Viagens Plásticas, do ViagemEstadao