Se você tivesse uma máquina do tempo em que época voltaria?
Na Roma antiga ou antes ainda para encontrar com Adão e Eva? Enquanto essa máquina não sai do papel, toda vez que retorno à Basiléia, Suíça, dou uma passadinha no museu Jean Tinguely para voltar em outro tempo. E por quê?
Porque ali consigo materializar as palavras do poeta Von Schiller (1759-1805): “o homem só é inteiramente humano quando brinca”. Impossível não entrar na brincadeira de suas obras ‘malucas’ e sem nexo. Foi nesse museu também que entendi o verdadeiro significado da palavra aventura que tanto procuro em minha vida. Aventura não é apenas aquela viagem que se vale do susto e de dores nas pernas, e sim a que provoca nossa imaginação e fantasia.
Não dá para sair desse museu sem ter sido recarregado por gigatons de alegria. Algo que só senti outras vezes em Galápagos e Madagáscar, mas por motivos bem diferentes.
Mas, caramba! O que tem lá? É aí que vem o mistério da transformação do adulto em criança: lá você só vai encontrar geringonças e fantasias unidas com o talento de Jean Tinguely (1925-91).
O museu, projetado pelo famoso arquiteto Mario Botta, abriga as principais esculturas de vanguarda deste cultuado artista, expoente da arte cinética e do movimento nouveau réalisme que nos remetem a um mundo lúdico de sombras, sons, surpresas, sustos e risos.
De grandes dimensões, esses bricabraques de estruturas de ferro, incorporaram rodas, manivelas, correias, polias, espelhos e outras engenhocas que se movimentam. Em muitas das instalações de Tinguely, pode-se circular em seu interior, e ter a imaginação levada a um mundo feérico, provocada por curiosas formas, aleatórias luzes, cores, ruídos surdos e ásperos zumbidos. As esculturas ganharam nomes como: Balé dos Espantalhos, Meta-Matic e Maxi Utopia. Nelas vivem-se emoções inauditas.
O melhor seria não dizer mais nada e deixar o visitante livre para decifrar os enigmas de cada uma de suas instalações. O que conta ali é o olhar e aonde a imaginação te leva.
Mas não poderia agora deixar de falar da companheira de Tinguely, a não menos famosa artista Niki de Saint Phalle (1930-2002). Primeiro porque a bela Niki, que foi top model na juventude, com uma obra lúdica e instintiva que dialoga com Gaudi e Miró, também propôs reflexão sobre o papel da mulher na sociedade contemporânea. Depois, porque juntos criaram obras de grande beleza cênica e lúdicas – as famosas fontes – em especial a Fonte Stravinsky, em Paris, que desperta encantamento.
As obras de Niki têm colorido vivo, rico grafismo, e uma pegada leve com traços de infância. Já as de Tinguely unem objetos heteróclitos. Estas esculturas metálicas abstratas de Tinguely, no espelho d’água da fonte se movimentam e sustentam as figuras de Niki: pássaro, sereia, coração, serpente, chapéu, rouxinol, elefante, caveira e clave de sol. As cores parecem seguir o secreto movimento das grandes armações de ferro, e o alarido provocado pelos golpes secos, ruídos surdos, zumbidos e esguichos aleatórios, completa o ar festivo da fonte.
O que você faria se tivesse uma máquina do tempo? Voltaria para encontrar com Júlio César ou para a Grécia antiga? Ou ainda ao tempo de criança? Para este tempo não é preciso nenhuma parafernália, somente um ticket do Museu Tinguely.
Para saber mais: www.tinguely.ch
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*Matéria publicada originalmente em nosso blog Viagens Plásticas do Viagem Estadão