Uma visita à Casa Azul – Museu Frida Kahlo – permite conhecer não apenas a artista, mas a Cidade do México
Nove horas de voo de São Paulo até a Cidade do México, mais uma de táxi num dos mais anárquicos trânsitos do mundo para enfim chegarmos na Calle Londres, n. 247, bairro de Coyoacán. Os donos da casa, Frida Kahlo e Diego Rivera há muito não circulam pelas coloridas salas, mas estão vivamente presentes nos objetos, móveis, quadros, roupas, fotos, e até mesmo nos utensílios domésticos, e no jardim. Perambular pela Casa Azul é entrar no universo do casal que ali viveu. Mas é muito mais, é ter conhecido também o país, sua história, revoluções, cultura e tradição.
Frida Kahlo (1907-54) foi uma mulher à frente de seu tempo. Símbolo de irreverência e transgressão, de personalidade incomum e autêntica, é hoje um dos estandartes mais populares da cultura mexicana. Na Casa Azul ela nasceu, passou sua infância, se casou por duas vezes com o muralista Diego Rivera, produziu seus quadros e ali faleceu. Poucas casas guardam tão fortemente a presença de quem nelas viveu, como a Casa Azul.
Nas primeiras salas o que salta aos olhos é o piso amarelo vibrante, e nas paredes vamos conhecendo Frida através das fotos, quando menina, com a mãe e a irmã, ela quando jovem que esconde a perna mais curta devido a poliomielite, seu rosto de traços fortes e olhar intenso em poses irreverentes, ou com ar nobre como no retrato com o drapeado do lenço vermelho ao redor do pescoço. A maior parte das fotos são de autoria de seu pai, Guillermo Kahlo, fotógrafo oficial do governo para registrar os principais monumentos mexicanos.
Seguindo as salas nos emocionamos com sua tragédia pessoal revelada nos quadros. Aos 18 anos Frida sofreu um grave acidente quando voltava da escola em um ônibus. No desastre ela teve a coluna vertebral quebrada em três lugares, a perna direita sofreu 11 fraturas, o pé foi esmagado e o osso da bacia partiu-se em três.
Desde as primeiras salas, os visitantes falam em voz baixa. Sussurram. Mas, ninguém segura um ahhh! ao entrar na cozinha – local preferido da casa para Frida. Era nesse coloridíssimo espaço que ela recriava tacos e tortillas com molhos espessos e suculentos, aromatizados com as pimentas mexicanas. Os pratos eram sempre servidos com generosas doses de tequila ou do forte mezcal.
A mesa e as cadeiras têm um tom amarelo enxofre, enquanto os ladrilhos, tachos, talhas e panelões vieram de Puebla, famosa pela qualidade de sua cerâmica. Já as prateleiras estão abarrotadas de louça, copos, cestas, potes, jarras, molheiras que revelam a predileção de Frida e Diego pelo fazer artesanal de diferentes regiões mexicanas.
Da cozinha uma escada leva ao segundo piso onde fica o ateliê de Frida. Através dos janelões a luz brinca com os tubos de tinta, pigmentos, telas e pincéis. Diego adaptou a cadeira de rodas da mulher ao cavalete, onde um quadro de frutas ficou por terminar. Frida pediu ao marido que instalasse uma fonte no jardim ao lado desse espaço, pois dizia que o som da água lhe fazia bem. Mas, nem pense encontrar aqui uma fontezinha com esparsos pingos suaves. A fonte de Frida jorra um repuxo de mais de 2 metros de altura que cai ruidosamente sobre o piso de ladrilhos decorado com rãs e sapos, símbolos de saúde e felicidade para os astecas.
Ao lado do ateliê fica a cama de Frida. As muletas estão encostadas na parede, os remédios forram a mesinha de cabeceira. Mais uma vez há tanta cor no bordado das almofadas, nas bizarras carrancas de caveiras, e nos objetos como na bola de natal pendurada no teto da cama, que dissolve a tristeza de pensarmos no quanto Frida ali sofreu. A dor está sempre presente, mas as cores vivas mostram a tenacidade dessa mulher. Quando mesmo depois de passar por 27 cirurgias, foi preciso amputar sua perna, ela anotou em seu diário: “pés para que te quero se tenho asas para voar”?
Logo após a morte de Frida, Diego encerra em baús todas as roupas da esposa, e proíbe que sejam abertos enquanto não se completasse 50 anos do falecimento da artista. Agora, em uma das salas podemos curtir toda a paixão de Frida pela vestimenta tradicional das indígenas mexicanas. Ousada ela mesclava os vestidos com babados das Tehuanas, blusas bordadas de Oaxaca, e xales ornados de flores coloridas de Yucatán. Há muitas vitrines com os exuberantes arranjos de cabeça, joias, xales, e até mesmo sapatos, botas e coletes ortopédicos que ela mesma bordava e pintava.
Os que amam viajar elencam locais únicos que almejam conhecer uma vez na vida. Pode ser o Vaticano, o rio Sena ou o rio Amazonas, o Grand Canyon …, seja qual for seu objetivo ou estilo, considere acrescentar em sua lista a Casa Azul de Frida e Diego.
Agradecimentos especiais:
Conselho de Promoção Turística do México www.visitmexico.com
Secretaria de Turismo do Distrito Federal
Quem leva: AeroMexico www.aeromexico.com
Onde ficar: Hotel Fiesta Americana-Reforma (Grupo Posadas). Ótima localização, ao lado das principais atrações turísticas da capital mexicana www.fiestamericana.com