Tenho de 1966 as mais seletas recordações. Foi para mim um ano semelhante àquele de 1566 que descartou quatro meses do calendário romano para se ajustar ao “ano natural” determinado pelo sol. O do século passado, também acertou meus ponteiros. A começar porque festejei meus 18 anos, e assim não precisava mais sair às escondidas com o carro da família. Foi o ano que entrei na faculdade de engenharia. Meu pai me trouxe a notícia, porém, com certa seriedade. – Caramba filho, você foi o último da lista! A resposta de batepronto que era o mais esperto de todos, pois tinha estudado o suficiente para passar, fez-lhe o sorriso voltar ao rosto.
Que delícia participar das passeatas estudantis, pichar muros e colocar faixas. Nosso mote era “A favor da ´dita-dura´. O movimento cresceu na USP e na Católica, porém depois de algumas cacetadas da polícia, fomos às forras, deixando a brincadeira de lado e sem medo de ser enquadrado como subversivos, participamos dos protestos contra o regime militar. Não me esqueço das saídas noturnas num furgão preto da firma do pai de um colega, com a única finalidade de assustar e quebrar o tesão dos namoradinhos enroscados nas árvores do Pacaembu ou das Perdizes.
Época que deixo de caminhar com Herman Hesse para voar pelas mãos de Manoel Scorza. Ano também da minha primeira viagem internacional patrocinada em parte por Assis Chateaubriant. Não houve solidão em 1966, só apetite pela vida.
Os planos para o segundo semestre eram ainda mais desembestados. Voo a vela, viagem iniciática pelo continente africano ou engajamento político mais sério com a turma dos dominicanos. Mas Alá, Deus, Buda, Zeus ou Oxalá, tinham outros planos. No dia do meu aniversário, ao entardecer, inesperado, uma loirinha de 15 anos se materializou na porta da minha casa. – Sua irmã está? No pouso de seu olhar e na subconversa nasceu um pacto que dura até hoje.