Mercados são nossos locais prediletos e um dos primeiros lugares que visitamos numa cidade estrangeira. Por quê? Em um mercado dá para colher a essência de um país num zás-trás! Eles nos oferecem uma ampla janela sobre a vida da região. Transitar entre as barracas coloridas é uma das mais abrangentes possibilidades de conhecemos um povo, como as pessoas se relacionam, do que se alimentam, o que a terra produz, a diversidade do trabalho artesanal e, ainda nos desperta o apetite de saber mais sobre o país.
Chichicastenango, Guatemala – a mais bela feira indígena
A vida não tem o mesmo ritmo às quintas e sábados em Chichicastenango. Nesses dias se realiza uma feira indígena das mais singulares das Américas: insólita, surrealista, incensada e mirabolante. Nos deixamos levar, sem pressa, pelos labirintos de ruazinhas coloridas que apresentam os mais ricos contrastes entre as barracas de verduras e frutas em profusão, dos odores mesclados, do artesanato, e da policromia dos tecidos feitos em teares manuais que atestam a identidade maia. As estampas revelam animais, plantas, eventos históricos e religiosos de cada região. É em particular na blusa dos trajes das mulheres, chamadas huipil, a maioria delas bordadas à mão, que essas histórias são narradas. Outro elemento tradicional é o tzute xale utilizado como lenço de cabeça, para carregar mercadorias ou mesmo bebês.
Huasi, Taiwan – night and day
Dia e noite, viajantes gourmets caminham eufóricos pelas ruas desse mercado em Taipé, tal como crianças num parque de diversões. Um extenso cardápio vai desde sopa de flores até bebidas à base de saquê e o renomado chá oolong. Incontáveis e diferentes produtos são assados, fritos, tostados, grelhados, ou cosidos no vapor, como os delicados bolinhos Dim sun. Tudo é preparado ali mesmo na rua, incensando o ar com aromas inusitados. Os taiwaneses adoram comer e é fácil adivinhar porque: em seguida da saudação de bom-dia, Ni Hao! segue-se Chih Fan Le Mei? Ou seja: “você já comeu hoje?”.
Feira do Açai, Belém
As frutas da Amazônia carregam sabores únicos que reverenciam a culinária de um Brasil autêntico com influências da alimentação indígena. Uma delas, o açaí, é homenageada com uma feira só para ela que acontece todas as madrugadas, ao lado do Mercado Ver-o-Peso. Na Feira do Açaí, a frutinha é o “oro negro”, como a definem os ribeirinhos, e a de melhor qualidade é nativa da Ilha do Marajó. Extraído de uma palmeira que cresce em terrenos alagadiços, a fruta pequenina e ácida, de cor arroxeada, quase negra, é conhecida também como o maná da Amazônia.
De alto valor energético e rico em fibras, ela aparece, no norte do país, em receitas tanto doces quanto salgadas, como bolo, pudim, ou mingau, e acompanha de peixes a um simples ovo frito.
Mercado 4 Caminos, Cuba
Localizado num decadente edifício que ocupa todo um quarteirão, na zona central de Havana, esse mercado captura o espírito da ilha que viveu mais de 50 anos sob rígido embargo econômico. Tons terrosos dominam o piso, as paredes e os produtos. Estes são apenas os produzidos na própria ilha, como abóbora, cebola, milho e feijões. As batatas e inhames mantêm-se cheios de terra, como se fossem recém colhidos. Entre as frutas o mamey, que saboreia a abacate, abacaxi, goiaba, laranja e mangas. A ala mais simples é a que vende carne. Só se encontra a de porco, e mesmo assim apenas a cabeça, pés e orelhas. A monotonia dos produtos vendidos contrasta com a balburdia dos negociantes e compradores. Ali, feirar, negociar, confunde-se com foliar e até flertar. É comum ouvir os vendedores cumprimentar suas freguesas de “minha deusa, minha rainha e meu amor”.
Mercado flutuante de peixes, Santarém, Pará
Este mercado nos mostrou o universo dos peixes de água doce dos rios Tapajós e Amazonas: pirarucu, tucunaré, surubim, tambaqui, piracuí (para fazer o bolinho típico da culinária dos santarenos), piranha, gurijuba, curimã, pacu, para citar apenas alguns.
Os peixes começam a ser vendidos logo nas primeiras horas da manhã, quando o calor dá uma trégua e por causa das garças que sem nenhum acanhamento se misturam aos compradores, e surrupiam rapidamente um naco do peixe enquanto está sendo limpo.
Mercado Paul Bocouse, Lyon, França
Uma leve euforia reina quando se atravessa pela porta de vidro do número 102 da Rua Lafayette. Fundado em 1859, em pouco tempo se tornou um halle – grande mercado. Em 2006, ganhou moderna fachada em cristal e recebeu o nome de um dos mais amados filhos da terra, Paul Bocuse, considerado o chef do século.
No interior o mercado acena com uma verdadeira orgia para os turistas, que se extasiam diante dos 56 boxes de cores variadas e odores insinuantes dos queijos aos embutidos. Os boxes que vendem carne ou queijos exibem, solenemente emoldurados, os importantes prêmios gastronômicos e fotos dos animais criados nos campos ou montanhas. A região se gaba de suas charcuteries: cochonnailles – embutidos de carne de porco; o sabodet feito com os miolos; os saucissons de montagne, andovilles e rillettes.
Mercado Asteca, México
Por que falar desse mercado que não mais existe? Porque ele foi o grande inspirador de todas as grandes feiras do mundo.
A cidade asteca de Tlatelolco, localizada numa ilha ao norte da capital Tenochtitlán, atual Cidade do México, possuía o mais importante mercado de todo o Império. Quando em 1519 o México foi conquistado, os espanhóis se maravilharam com a visão da cidade que flutuava sobre as águas: grandes torres e templos, e a praça central onde se localizava o mercado que era duas vezes maior que o da cidade de Salamanca, na Espanha. Era abastecido com os mais raros e diferentes produtos vindos de diferentes regiões. Entre eles, animais vivos, papel, tecidos de lã ou algodão, peles curtidas, penas, esteiras usadas como tapetes ou colchões, pedras preciosas, pincéis e tintas, e todo tipo de utensílios em cerâmica e palha.
O mercado ainda oferecia ainda serviços de cabeleireiro, transporte de mercadorias, vendas de escravos, consultas com o xamã que receitava ervas, e cantinas que serviam tortillas feitas de várias espécies de milho, e nopales, folhas de cactus prensadas servidas como uma espécie de panqueca. Existia o escambo, mas fazia às vezes de moeda, grãos de cacau ou a spondyle, uma concha vermelha. Juízes resolviam pequenas disputas e agentes da lei circulavam para conferir a segurança e os preços.
No Palácio Nacional da Cidade do México, uma série de pinturas murais, de Diego Rivera (1886-1957), ilustram com riqueza de detalhes, a grandeza do mercado asteca que não resistiu à conquista espanhola.