Deserto ou oásis?
Embora não mais existam continentes perdidos ou ilhas misteriosas, uma diferente Odisseia se apresenta para novos aventureiros: a busca de lugares que os desafiam à aventura interior. Nesta atmosfera encontra-se o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.
Charles Dickens (1812-70), escritor inglês famoso pelos seus livros tocantes, entre eles Olivier Twist, certa vez declarou que a única cidade que tinha medo de descrever era Veneza – medo de não lhe fazer justiça. E isto vale para os Lençóis Maranhenses.
Pode-se tentar explicar o fenômeno da natureza que acontece em Lençóis, discorrer sobre sua paisagem exuberante, mas a experiência de caminhar sobre suas dunas mutantes e mergulhar em suas lagoas, não. É preciso viver esse lugar, ao lado do oceano que ultrapassa qualquer expectativa. Nada vai prepará-lo para essa viagem, mesmo que você já tenha visto as mais belas fotos.
Localizado a 270 quilômetros de São Luís, capital do Maranhão, os Lençóis Maranhenses reúnem características que despertam a cada ano o interesse de milhares de viajantes. São 155 mil hectares de dunas, lagoas, piscinas naturais de águas cristalinas, praias primevas que abrigam aves migratórias e manguezais, tudo coroado por um sol vangoghiano.
Mas, Lençóis é, de fato, uma coisa e outra nas duas estações do ano em que se transfigura: a das chuvas – de fevereiro a maio e a das vazantes, agosto a dezembro. Quem a vir numa só dessas estações levará uma imagem tão verdadeira como enganosa.
Que deserto é esse que metade do ano fica “encharcado” de lagoas de cores cintilantes? Que deserto é esse que no final da época das chuvas, em maio, forma cachoeiras entre as dunas de até 10 metros de altura? Que deserto é esse que dividido por um rio, o Preguiças, em uma margem apresenta areias amarelas e na outra alvíssimas e resplandecentes e que avançam sete metros por ano em suas bordas, mas poupa pequenos vilarejos de pescadores em seu interior?
Lençóis é um dos raros locais que privilegia a descoberta, onde as pessoas extasiadas pela beleza da paisagem, com o corpo exorcizado pelas árduas e longas caminhadas subindo e descendo dunas, percebem que as façanhas físicas podem ser acompanhadas de metamorfoses interiores.
Uma única certeza: a que no final de uma viagem para esse deserto, você não será mais o mesmo de quando lá chegou.