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Jovens transformadores em campo

O que é preciso para tornar o campo atrativo para o jovem e garantir o futuro da agricultura familiar?

Sou jovem nascido no campo, filho de lavradores de café. Muitas vezes peguei-me fazendo essa pergunta a mim mesmo: também vou ser agricultor cafeeiro? Quero realmente permanecer na roça? Na busca de respostas, sondo primeiro meu pai que decepcionado revida: você vai ficar na enxada?

Sabatino então meu professor. Cara boa praça, orientador e amigão, me interroga: você vai ficar no roçado, vai de reboque na mesma dura e difícil vida de seu pai e avô?
Indaguei a namorada se era essa vida e o futuro que almejávamos para nós, e ela me manda bisbilhotar no Google. Este, quem diria, hospeda 780 milhões de informações sobre café! Nas entrelinhas de muitos artigos vejo que as pessoas não olham da mesma maneira o jovem do campo e o da cidade. Volto à estaca zero.

A maioria de meus amigos, filhos e filhas de agricultores, têm as mesmas indagações.  E aí, vamos continuar a tapar o sol com a peneira? Não. Decidimos então, cada um de nós cavar em todas as direções e trazer respostas. #partiucafé.

Sacos de café colocados numa plantação
Colheita de café ar no Espirito Santo
crédito: viramundo e mundovirado

Uma semana depois chega a colheita de todos.
O primeiro conta que investigando sobre café, encontrou o artista Candido Portinari, natural de Brodósqui interior de São Paulo. Ele curtia dizer ter nascido num pé de café tal sua identificação, e mais, afirmava sentir o gosto da terra dentro dele. Mas, esse colega devolve outra pergunta para a turma: “e nós, será que podemos dizer o mesmo”?

O segundo leu que a lavoura do café transformou a paisagem do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e do Espírito Santo, no século 19. Fortunas foram criadas, e milhares de imigrantes europeus vieram para trabalhar nas terras.
Outro colega ficou sabendo que desde o passado sobra transformação no universo do café. E, que é só mudança radical: o trabalho mecanizado, os modernos insumos, e até as primeiras máquinas de café expresso utilizadas nas cafeterias foram recebidas com desconfiança.

Aquele outro cara descobriu que a descoberta do café solúvel na Segunda Guerra Mundial teve impacto tão importante que criou uma nova indústria.
A única garota do grupo contabilizou que hoje só 30% de mulheres se dedicam aos negócios no campo.

O sabichão aprendeu que nosso meio rural hoje é chamado de agronegócio – gerir uma empresa é o mesmo que tocar uma propriedade rural. E o Brasil não é somente maior produtor de grãos de café, mas também de blends, mistura de diversos tipos de cafés selecionados com critério.

O mais investigativo de todos afirmou que sua pesquisa se baseou no atual aumento de consumo do café. “Fiquem sabendo que 15 anos atrás não existia uma única cafeteria com cafés especiais em São Paulo, e hoje pipocam em todos bairros. Proliferam cursos de barista, concursos, prêmios, revistas especializadas, e há muita valorização em todos os espaços da cadeia produtora do café. E atenção galera: a China está descobrindo nosso café! Já pensou aquela quantidade de gente tomando cafezinho?”. 

saco com grãos de café
Café arábica
crédito: viramundo e mundovirado

Afinal, concluímos todos com entusiasmo que o café é a própria transformação. Não só sobreviveu a tudo, como ainda é o mesmo bom, denso, e amargo cafezinho. Avaliamos que nós ali reunidos, de certa forma, também inovamos, pois interagimos e trocamos cultura. O café nos fez dialogar e abriu nossas cabeças às novas ideias.
Verificamos que às vezes é só melhorar o que já temos: usar boas práticas de manejo e sustentabilidade do solo, aumentar a utilização de fertilizantes orgânicos, usar corretamente a água, enfim produzir mais com menor custo.

Também reconhecemos que é fundamental conhecer a qualidade do nosso produto, nos atualizar, saber das novas tecnologias, ser bons gestores de nossas propriedades.

Nos desenvolver profissionalmente. Ser criativos. E acima de tudo aprendemos que não se faz nada sozinho. “Sozinho sou forte, juntos somos dez vezes mais”, virou quase um mantra da nossa reunião de jovens futuros cafeicultores.
O primeiro passo agora será levar essas conclusões para um bom papo com nossos pais, pois juntos poderemos compartilhar conhecimento e inovações.

Na janela , um adolescente ao lado da mãe e do pai
Henrique, filho de Fátima e Vitor Capelini, vai gerir a propriedade cafeicultura de seus pais no Espírito Santo?
crédito: viramundo e mundovirado

Os personagens acima citados, de alguma maneira estavam presentes no evento “Jovens Transformadores no Campo” patrocinado pela Nestlé com parceria da Ashoka Brasil. Esta ONG é comprometida em criar mais possibilidades aos jovens com potencial transformador.
O encontro em Araras, reuniu empreendedores sociais, educadores, e especialistas para discutir oportunidades de inovação no campo com finalidade de melhor orientar os jovens e apoiá-los para realizar seus projetos.

Mostrou ainda experiências bem-sucedidas em agricultura familiar a fim de incentivar os participantes a pensar novos caminhos para o futuro dos jovens na cafeicultura.
Dentre os palestrantes convidados, Tião do Serta sinalizou a necessidade da mudança de ótica dos professores: “… não só repassar conhecimento. A escola do campo tem que trabalhar essa perspectiva. O jovem enxerga as oportunidades do campo? Os professores devem ajudar a construir sonhos, alimentar alma, corpo e bolso. E, as empresas também devem fazer esse trabalho”.

No campo, a Nestlé já distribuiu para os agricultores 20,9 milhões de mudas de qualidade, com objetivo de terem maior produtividade, menor necessidade hídrica, e maior resistência a pragas. E mais, a reciclagem das cápsulas de Nescafé Dolce Gusto, gera tubetes para abrigar novas mudas de café.

várias pessoas em pé depois de ua conferência
crédito: viramundo e mundovirado

Estavam presentes na mesa: Antônio Lovato, Lilian do Prado, e Tião do Serta, empreendedores sociais; Jaison P. Lara, educador e articulador, Nilson Araujo Barbosa, administrador rural, Stenio Orletti de família produtora de café, Thiago Trovo, especialista em cafés, Valdeci Loterio, especialista em educação ambiental, Pedro Malta Campos, gerente agrícola, e as jornalistas Mirella Domenich e Giuliana Bastos, especialista em gastronomia.  Ilustração cajuzinho usada como ponto final das matérias da vmmv

Uma frutinha vermelha num pé bem verde
Fruto do café pronto para ser colhiso

ViramundoeMundovirado
"Viajamos para namorar a Terra. E já são 40 anos de arrastar as asas por sua natureza, pelos lugares que fizeram história, ou pela cultura de sua gente. Desses encontros nasceu a Viramundo e Mundovirado."

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