Em Hong Kong,
Não adianta ser arquiteto estrelado nem mesmo ganhador do Pritzke Prize, o maior prêmio do segmento do mundo, para ter o projeto aprovado. A palavra final é do mestre em Feng Shui. Veja o porquê.
Ao deixar o aeroporto Chek Lap Kok é impossível ficar indiferente, pois a geografia parece irreal. O horizonte é uma cordilheira de prédios. Não é grande a cidade de mais de sete milhões de habitantes. Ela é alta. Como não há espaço a perder, Hong Kong é a cidade com o m² mais caro do mundo, os honcongueses literalmente vão para o alto.
Os prédios nanicos têm de 40 a 50 andares, e os conjuntos comerciais e habitacionais que impõem respeito atingem 80 a 90. Ali estão muitos dos maiores edifícios do mundo.
Agora nem perca tempo tentando descobrir por que seus futuristas edifícios provocam estranhas sensações. Na arquitetura a tradição chinesa irrompe invisível. A dimensão e a forma não são arbitrárias: a altura revela grandeza e poder, o design guarda um significado especial.
Os edifícios são de vanguarda, mas sua essência está fundeada na tradição chinesa
Todas as construções são regidas pelo Feng Shui (pronuncia-se fong xuei), ou seja, vento-água, uma arte-ciência originária na China cujos ensinamentos datam de mais de 5.000 anos. É um complexo sistema que analisa as construções e os efeitos que exercem sobre as pessoas.
Nesse momento me recordo das palavras de Raul Sorôa, brasileiro e mestre em Feng Shui que visitou Hong Kong:
“Tome um grande fôlego e prepare-se para entrar em um mundo totalmente novo e diferente de tudo o que conhece. Iremos ingressar no mundo dos dragões e tigres, forças positivas e negativas”
Em Hong Kong, 90% da população praticam o Feng Shui, e existem ali mais de 10.000 mestres. Dentre estes alguns são reverenciados como Feng Shui hsien-sheng, ou seja, experts. O trabalho de um mestre consiste em conseguir, com a ajuda de uma bússola, que os edifícios, casas, apartamentos e escritórios, sejam orientados segundo as linhas do dragão. Por falar em dragão, são cinco os que habitam a cidade. Conhecer seus caminhos pode significar a sorte da sua moradia ou o sucesso do seu empreendimento.
Os mestres dão o aval para uma obra respeitosa com o ambiente e de grande profundidade filosófica. Se o Feng Shui não for seguido, o resultado pode ser desastroso. Assim, todos arquitetos, mesmo aqueles que não são chineses, se escoram neste conceito para projetar seus edifícios.
Nessa pegada o inglês Norman Foster, o mesmo arquiteto do moderníssimo aeroporto da cidade, ao idealizar o Banco HSBC, aconselhado por um mestre, exigiu que a área em frente à futura construção fosse adquirida pela empresa. Isso para que a visão das águas da baía não fosse obstruída. Este elemento da natureza está ligado à fortuna para os chineses, assim como o número oito.
O edifício se ergue sobre pilotis, e no lugar do quarto piso (número negativo para os chineses) ele é vazado; já as escadarias que o ladeiam, quando iluminadas parecem serpentes. Tudo isso para se adequar aos princípios do Feng Shui.
Desafiando as tradições, sempre voltadas para produzir energias positivas, o Banco da China (Hong Kong Bank) foi construído pelas autoridades de Beijing sob projeto do sino-americano I. Ming Pei, que também assina a pirâmide de vidro do Museu do Louvre. O edifício foi arquitetado em forma de uma faca chinesa. Objetivo: cortar energias negativas que recaíssem sobre o prédio.
Mas para os mestres de Feng Shui dos bancos vizinhos, o conceito seria outro: o de romper os fluidos positivos para suas companhias. Para terminar o sparring, eles sugeriram que se espelhassem os vidros das janelas voltadas para o Banco da China e, desta forma, refletir o mau agouro.
Botar olho grande é uma coisa muito séria para os chineses, do qual todos se protegem
Outra proteção, na fachada do Hong Kong Bank, dois leões de bronze guardam a entrada, e as pessoas que passam por ali costumam tocar as patas dos felinos o que, acreditam, dá boa sorte.
Apostando no oito, o argentino César Pelli, famoso pelo projeto do 6° prédio mais alto do mundo, as Torres Petronas, em Kuala Lumpur, desenhou o IFC (Internacional Financial Center) com 88 andares.
Ajuda a desvendar os segredos dessa arquitetura subir até o Peak, o famoso mirante Vitória. De início porque permite uma ampla visão de Hong Kong. Dali se pode ver o distrito financeiro, o formigueiro humano de Kowloon do outro lado do mar e, no meio destes, um dos portos mais fascinantes do mundo.
No caminho vê-se um arranha-céu branco e em formato cilíndrico, o Hopewell Center. Depois de concluído, o grupo proprietário do imóvel não conseguia alugar ou vender um escritório sequer. Motivo? O arquiteto não consultou nenhum mestre de Feng Shui. O edifício sugeria uma vela branca, símbolo de morte. Para resolver o imbróglio entraram em cena os mestres, que aconselharam a instalação de uma piscina na cobertura do prédio: a água apaga o fogo.
Mais do que um exemplo que captura o olhar, aprendi a ver o que está atrás de cada projeto. De frente para o mar e tendo a montanha às costas, um maciço bloco em forma de onda, quase duas vezes o Copan paulista em comprimento, possui um enorme espaço vazado em seu corpo. A razão: o dragão que habita a montanha atrás do edifício poderá passar por ele à noite para nadar e beber água no mar em frente.
A respiração do dragão é o Sopro Cósmico, uma força superior que permeia todos os seres do Universo
Embora invisível, na ótica de Hong Kong, o dragão é sempre vislumbrado.
Quando resolver ir:
Para chegar a Hong Konk é preciso fazer uma combinação de voos e se preparar para uma diferença de 11 horas a mais em relação ao Brasil. A Receptur, tel. 11-3259-4066, tem sugestões via Europa, Estados Unidos ou África do Sul e oferece a oportunidade de um stopover.
Onde se hospedar:
Hotel Lan Kuai Fong, na Ilha de Hong Kong, ao lado das mais badaladas ruas da cidade. Um novo conceito de hotel, charmoso e om excelente café da manhã
Hotel Intercontinental, aclamado por ter uma das mais belas vistas do mundo,
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