Surpreenda-me! Esta é a frase-chave para voltar a viajar seguindo todos os protocolos de segurança contra o covid-19. A continuidade dessa pandemia confirmou as prioridades que me parecem óbvias nas viagens para 2021: vacinação, destinos de curta distância com ênfase em sustentabilidade e responsabilidade social.
O fã de viagens pede novidades, mas gosta também de voltar aos antigos amores. E um deles, esteve sempre presente na minha vida, o Litoral Norte de São Paulo. Desbravei essa região como escoteiro, em excursões universitárias, estágio na Petrobrás, em São Sebastião, e por fim, em veraneios. Profundo conhecedor? Talvez. Por isso para retornar lá agora, desejava algo novo. E, ela chegou pelas mãos do recém-criado (2018) Consórcio Intermunicipal Turístico – Circuito litoral Norte de São Paulo – CIT, e roteiros com foco no turismo comunitário
Muito mais do que um guia de praias, restaurantes, hotéis e pousadas, os lugares apresentados pelo CIT apontam para esse movimento de reconfiguração das viagens e seus relacionamentos. E, me deu a chance de observar aspectos centrados nas diferentes culturas e tradições dos caiçaras que vivem nessa paisagem que atravessa a história do Brasil. Ouvi relatos saborosos e vivi experiências que dão gosto à vida. Assim, essa viagem mantém vivinha da silva o ideal de minhas jornadas– um destino de descobertas.
Nesse roteiro ao nível do mar já se percebe que também vai ser uma viagem de paisagens. A Mata Atlântica não é uma única mata, mas sim um maciço de montanhas divididas por Bertioga, Caraguatatuba, São Sebastião, Ilha Bela e Ubatuba. Não tenha pressa. Pare. Observe. Curta. Em vários pontos da estrada avistam-se as praias, praias com adjetivos desnecessários que deixo para comentar em outro artigo. Agora, minha conexão será com a riqueza caiçara e se concentrará em duas vivências.
Na Barra do Rio Boiçucanga, São Sebastião, conheci o projeto da Associação de Pescadores dedicados à pesca artesanal que se pratica ali há séculos. Antes de sair de barco para o ‘curral’, em alto mar, onde é feita a pesca, fui convidado para um típico café caiçara: café de garapa, bolinho de taioba, que dizem dá mais sustento que a carne, e batata doce. Amo histórias, e elas já começaram durante o café, com direito aos poemas de Dona. Lavínia de Matos.
Durante a navegação para o curral, o pescador Leo dos Passos nos aproxima da realidade dos costumes e superstições dessa pesca: “O mar tá bom pra peixe quando ele está tranquilo e as correntes à leste”. E completa: “para uma boa pescaria não se deve levar bananas, nem mulher grávida”. Contudo o momento para os pescadores artesanais que ainda vivem dessa atividade encontra sérias dificuldades, entre elas a falta de peixe e o desafio de se adaptarem as rígidas leis ambientais. Para Ademir, outro pescador de Boiçucanga, as pesadas multas e o tratamento dado pelos fiscais que os tratam até como bandidos é o maior problema para a sobrevivência dos pescadores. O que ele pede é que haja bom senso entre a fiscalização e a pesca artesanal.
Nessa road trip pelo litoral, nada é monótono no trajeto entre Boiçucanga e o próximo projeto cultural caiçara: a maricultura na Praia de Cocanha, em Caraguá.
Quem diria, devemos a um náufrago irlandês, o cultivo de mariscos! Essa história com jeitão de lenda conta que Patrick Walton naufragou na costa de La Rochelle, França, e foi dar numa enseada lamacenta. Para sobreviver à falta total de peixes, Patrick, colocou estacas na lama e esticou redes entre elas para pegar gaivotas. Em pouco tempo ele viu que moluscos haviam se fixado nas redes. Assim começará o cultivo na região de Charente-maritime, que hoje é o principal centro europeu da maricultura.
Aproveitando o gancho de Walton, e com técnicas mais modernas, além do mar calmo e de águas límpidas da enseada de Cocanha, os maricultores caiçaras saem logo cedo de seus ranchos para o cultivo de mariscos. Eu fui junto.
Na plataforma flutuante, depois de retirar os mariscos das redes, que chegam a pesar até 25 quilos, eles limpam e os separam para o comércio. José Luis, presidente da Associação dos Maricultores de Cocanha, diz que ‘os mexilhões mudaram para melhor a vida das famílias de pescadores dessa praia’, e ressalta também o valor nutritivo desse alimento com proteínas, ferro, magnésio, potássio, fósforo e vitamina C. Já os ambientalistas gostarão de saber que o cultivo de mexilhões indica um local livre de poluição.
Esse prazeroso passeio se completa na Ilha dos Mexilhões, onde Edmilson já cozinhou os mexilhões e fez um molho de vinagrete prá lá de especial, com cebola roxa, pimentão amarelo, verde, vermelho, e coentro, tudo muito bem picadinho, sal, pimenta fresca moída, azeite e vinho branco. E é uma beleza!
A criatividade é necessária na tentativa de descobrir caminhos alternativos, mais ainda com o selo de certificado de segurança em protocolos do covid-19. Este vem sendo o foco principal do Circuito Litoral Norte e de seus parceiros, pois:
‘Viagem, ninguém vive sem ela.’
Sugestões para quando você for:
Pousada da Costa, Centro, Caraguatatuba. Sua vantagem é o custo benefício. Lugar sossegado e boa localização diante da praia. pousadadacosta.com.br
Restaurante Ravenala, Maresias, São Sebastião. O nome já é um bom sinal. Ravenala é uma palmeira nativa de Madagáscar, símbolo dos viajantes. Comida boa, peixes e frutos do mar fresquíssimos em ambiente agradável. restauranteravenala.com.br
Restaurante Badauê, Maresias, São Sebastião. Excelente para um happy hour, ou jantar com pratos à base de peixes. restaurantebadauê.com.br
Maresias tour, Maresias, São Sebastião. Para turismo aventura nada melhor que uma agência especializada. Diversos roteiros capitaneados por quem escolheu Maresias para viver, e conhece locais quase secretos, Thiago Bertassoni. maresiastur.com.br
Para saber mais: circuitolitoralnorte.tur.br
Matéria publicada originalmente no blog Viagens Plásticas do Viagem Estadão