À primeira vista empatam na aparência: a mesma cor dourada, o igual formato de meia lua fechada de um lado, e bordas onduladas. Variam de tamanho e de recheio. Só que o parente distante tem nome mais pomposo: cornish pasty. Podem ser também considerados ‘farinha do mesmo saco’ se pensarmos em seu ancestral mais remoto – a torta ou o pastelão, iguaria nas cortes francesa e inglesa do século 14.
Quer saber como e quando tal iguaria acabou se transformando em uma espécie de pastel rústico? Conta-se uma historinha que tem tudo para ser verdadeira. Cerca de 300 anos atrás, as mulheres dos trabalhadores nas minas de cobre e estanho na região da Cornualha, Inglaterra, teriam decidido reduzir o tamanho dos pastelões. E por quê?
Os mineiros desciam às profundezas da terra munidos de pás e picaretas e não podiam carregar o farnel com a boia, além de prato e talheres. Como ficavam o dia todo naquele caldeirão, necessitavam de um prato de sustança, que garantisse a labuta pesada e também desse um pouco de alento naqueles túneis estreitos e insalubres.
Nascia assim o cornish pasty – uma refeição completa. Dispensava o uso de talheres, podia ser reaquecido na chama de uma vela, além de ser facilmente transportado.
A massa é feita de farinha de trigo, manteiga e sal, e aberta em forma de um círculo onde se colocam os ingredientes crus. Dobra-se ao meio fechando firmemente as bordas para que o recheio encorpado não vase, e vai ao forno para assar.
O recheio tradicional se compunha de carne cortada em pedaços pequenos, batata picada, ovos cozidos, pedaços de rutabaga, uma espécie de nabo sueco, cebola em rodelas, sal e pimenta. Mas as cozinheiras utilizavam o que estivesse à mão, e também para que o sabor não fosse sempre o mesmo. Podia ser carne de porco, coelho ou frango, algum vegetal de época, como ervilhas ou cenouras, queijo e maçãs. Há até mesmo um antigo ditado popular versejando que o Diabo não se atrevia a cruzar o Rio Tamar, que faz divisa entre os condados da Cornualha e Devon, com medo de acabar em rodelas dentro de um cornish pasty.
Consagrado como prato tradicional da Cornualha, em 2011 recebeu a sigla que lhe garante status, o PGI – Protected Geographical Indication, classificação europeia de proteção a um produto regional com qualidades específicas. Sabe o que mais? Quando as minas eram abandonadas e os trabalhadores enviados a outros lugares do mundo, levavam consigo a receita do cornish pasty.
E agora, como é que vou dizer aos nossos hermanos argentinos e chilenos que a empanada deve ser uma versão latina do pastel da Cornualha?
*Recebemos dos argentinos a história oficial das empanadas: https://pizzapartyotr.com.ar/cual-es-la-historia-de-la-empanada-argentina/
E você conhece outra versão dessa papa-fina?