Levo a viagem a sério, porque a considero uma arte. Minhas viagens nascem da vontade de contar histórias, e também de mostrar uma imagem significativa, do mistério e do estranhamento de um lugar. Para tanto, meus destinos, na maioria, fogem dos lugares-comuns, e do pior inimigo da boa viagem – o chavão imperdível. Sempre combati essa praga de ‘boa aparência’ que esconde a falta de originalidade e criatividade para o futuro viajante.
Dentre minhas jornadas, as ilhas sempre tiveram prioridade. Talvez Freud explique, mas deixando ele de lado, outros motivos me levaram a visitar Madagascar (os Lêmures), Comores (a incrível história do Celacanto), Ilha Reunião (Piton de la Fournaise, um dos vulcões mais ativos da Terra), Chiloé (as igrejas de madeira), Marajó (a cerâmica), Ilhas Geórgia do Sul (a aventura de Ernest Shackleton), Tasmânia (o diabo), Malta (os Templários), Ilhas Faroé (o cineasta Ingmar Bergman), Islândia (Surtsey), Cabo Verde (Salinas), Páscoa (Moais), Fiji (Suva) …
Para todos esses lugares fui estimulado, acima de tudo, pela curiosidade que os livros, o cinema, os artistas, inocularam em meu espírito.
E, para vocês de onde nasceu o vício de viajar?
Essa também é uma pergunta que sempre me fiz. Minha ideia fixa para pôr o pé na estrada, eu descobri. Primeiro imaginava que essa obsessão era atávica, pois meus avós maternos eram vênetos, e talvez carregassem com eles algum gene de Marco Polo. Ou por parte do outro avô que tivesse DNA dos navegantes portugueses. Da avozinha brasileira, o mais perto que cheguei foi de seus antecedentes andarilhos que atravessaram o Estreito de Bering.
Mais tarde, acreditei que foram os livros de infância, de Emilio Salgari, Julio Verne, Robert Stevenson, Simbad, e por aí vai que me influenciaram. Mas a leitura destes livros já indicava minha vontade de sair pelo mundo afora. Por fim, descobri que foi numa simples pitangueira da casa da avó Pina, em São Carlos, que nasceu minha vontade de atravessar mares. Era ali que a partir dos quatro ou cinco anos, eu escalava aquela árvore, disputando espaço com sabiás e pintassilgos, e como um papa-léguas num passe de mágica a transformava em avião, navio, caminhão, trem e o escambau. Era pirata, mocinho, piloto, acho que até fui paraquedista, pois uma vez saltei entre os galhos e o que me valeu uma cicatriz de aventureiro no rosto.
Foi naquela pitangueira que aprendi a viajar. Em sua homenagem, mais tarde, plantei duas outras em minha casa para não der perder o gosto das viagens e … das frutas.