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Belo Horizonte, hub cultural no coração do Brasil

O mundo está ficando sem graça? As viagens acabaram? Não, não acabaram, e nem perderam a graça, mas têm que ser repensadas sem dar a mínima chance para o Covid-19.
Parti com olhar inventivo do viajante estabelecendo novas relações possíveis com o território e sua história. Viajar é a arte do encontro.
Cheguei. Belo Horizonte.

Clube da Esquina. Como é gostoso desembarcar pela primeira vez num lugar que não se conhece e descobrir novidades
crédito: viramundo e mundovirado

Cidade arborizada, espalha-se a partir da base da cadeia montanhosa da Serra do Curral. Nasceu planejada para ser a capital mineira. Ao entardecer já vem com trilha sonora. Há sempre uma melodia vinda de algum lugar. Meu local favorito para curtir acordes mineiros é numa casa no bairro de Santa Teresa. Ali fica o `Clube da Esquina`, hoje um bar inspirado no movimento de grande expressão musical brasileira na década de 60. Era ponto de encontro dos jovens músicos Milton Nacimento, Lô Borges, Beto Guedes, Fernando Brant.

Vida e arte se misturam em Belo Horizonte. Vanguardista, não tira os olhos do passado. Não vê problema em reverenciar a arte moderna tanto quanto a cozinha das avós. Ali o urbano e o campestre se completam.

Cantina do Lucas. Aqui o que não falta é discussão sobre qual é o melhor prato
crédito: viramundo e mundovirado

E onde é que a alma mineira se dá bem? No compasso do botequim que ali é coisa séria. O botequim é o centro difusor da política e das fofocas mineiras. Tudo na dose certa.
Agora, para abrir o apetite, vou dar dois lugares para saborear pratos com porções generosas a preços camaradas. Aí vai o primeiro com muita história: `Cantina do Lucas`, localizado no icônico Edifício Maletta, centro. Na época da ditadura jovens esquerdistas ali se reuniam para passar em revista os militares, mas quando suspeitavam de algum milico infiltrado no restaurante, a senha era “acabou o filé à cubana”, e todos mudavam de assunto, … mas não de prato.

Já a ‘Cozinha da Vó Ana’, no Velho Mercado Novo, é um local recente, mas vem com identidade gastronômica de gerações. Ali, quatro amigas se uniram para criar um cardápio com tradicionais receitas mineiras e italianas juntas e misturadas. Impõe aplausos. Bravo!!

Capela de São Francisco de Assis, na Pampulha. Patrimônio Mundial da Humanidade
crédito: viramundo e mundovirado

Agora cá entre nós, não dá para falar de Belo Horizonte sem captar seu brilho modenista. A verdade inegável é que a arquitetura de Niemeyer, na Pampulha, encarna uma era e uma estética que ainda hoje emociona. O ponto de partida para se conhecer esse complexo arquitetônico é a Capela de São Francisco de Assis. Com afrescos, quadros e azulejos de Portinari, mosaicos de Paulo Verneck, baixos-relevos de Alfredo Ceschiatti e jardim de Burle Marx, arrebata o mais insensível ser humano. Mas, outras obras desse conjunto, às margens da lagoa, também dão gosto até ao diabo, como a Casa do Baile, o Museu de Arte da Pampulha e o Iate Clube.

Em primeiro plano, instalação de Yayoi Kusama, Ao fundo, a Invenção da Cor, Penetrável Magic Square, de Helio Oiticica. As obras em Inhotim cutucam a imaginação. Cabe ao espectador decidir como vê a arte ali exposta e interpretar o que o artista materializou. O que importa são as sensações!
crédito: viramundo e mundovirado

Se entrei com o pé direito na Pampulha, minha alma mergulhou em Inhotim. Um lugar para desestressar qualquer múmia milenar. Exagero? Prazer para os olhos e o pensamento. Defino esse grande espaço como o monumental confronto entre plantas e arte. As obras e instalações ali expostas são espécie de laboratório para artistas renomados, como Lygia Pape, Claudia Andujar, Adriana Varejão, Helio Oiticica, Cildo Meireles, entre outras mais de 40 nacionalidades.

 

O feitiço da estrutura metálica art-noveau da Escadaria (projeto belga, fabricação alemã de 1897) do Palácio da Liberdade
crédito: viramundo e mundovirado

Quero finalizar o texto com um desabafo. Tenho uma danada dor de cotovelo dos escritores mineiros. São bons à beça! O caleidoscópio cultural de suas histórias e crônicas está bem representado com Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Cora Coralina, Adelia Prado, Cecilia Meirelles, Otto Lara Resende, Fernando Sabino, Helio Pellegrino, Humberto Werneck, o querido Murilo Rubião, e muitos outros

Como decifrar porque tanto escritores, poetas e cronistas desse naipe nasceram em terras mineiras? Será o queijo do Serro ou da Canastra, da goiabada cascão da Zélia, do pão de queijo, do doce de leite, da branquinha pura? Ou será também das montanhas, da alma barroca, da lonjura do mar, ou porque todo mineiro é um grande devorador de livros? Quem sabe me dizer?

A recompensa da viagem a Belo Horizonte chega a ser transformadora para quem se dispõe a colhê-la. As viagens rejuvenescem, e guardam sempre um segredo na volta. Qual seria o meu?

O que falar de um pâo de queijo mineiro da ‘A Pão de Queijaria’!
crédito: viramundo e mundovirado

Para saber mais: https://turismodeminas.com.br
Nossas sugestões para quando for:
Ouro Minas Palace Hotel: www.ourominas.com.br 
Restaurante Cozinha da Vó Ana: Velho Mercado Novo. @cozinhad_davoana
Restaurante Cantina do Lucas: @cantinadolucas
A Pão de Queijaria. @apaodequeijaria
Bar do Museu Clube da Esquina. www.bardomuseuclubedaesquina,com.br

ViramundoeMundovirado
"Viajamos para namorar a Terra. E já são 40 anos de arrastar as asas por sua natureza, pelos lugares que fizeram história, ou pela cultura de sua gente. Desses encontros nasceu a Viramundo e Mundovirado."

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