Eis o fato: a Amazônia foi escolhida pelo Viagem Estadão como destino top para 2020. Misteriosa e sedutora, incontáveis são as razões dessa escolha, sem mencionar sua grandiosidade – isoladamente seria o sétimo maior país do mundo em extensão.
Todas as imagens ali são carregadas de sentidos fortes.
A floresta é um lugar para adestrar a imaginação. Vez ou outra a mata colossal, tingida de múltiplas tonalidades de verde, dá uma brecada e abre espaço para savanas, caatingas e campinaranas de vegetação baixa. Alguns de seus cenários, como o Monte Roraima e seus platôs, rios de águas escuras que não se misturam com os de águas barrentas, os labirintos de igarapés e igapós no meio da mata inundada, sugerem cenários de ficção cientifica, e ainda confundem a realidade.
E o que dizer das mais belas praias de água doce do planeta? E a sensação de ziguezaguear pelos meandros dos maiores arquipélagos fluviais do mundo, o Mariuá e o Anavilhanas? Provas não faltam para legitimar os permanentes encantos dessa floresta tropical onde a luz trava combate com a sombra, e o real surpreende a ficção.
Para que você possa curtir uma viagem à Amazônia com toda segurança, não só evitando doenças infecciosas, como também problemas decorrentes do encontro com arraias e outros animais peçonhentos e venenosos, enumeramos algumas das principais orientações do professor Dr. Marcos Vinícius da Silva, do Núcleo de Medicina do Viajante do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
1- Quando se conhece o risco, não há risco. Como viajar a uma região endêmica de malária? Usar uma roupa tipo antirradiação? Ainda não existem imunizações para muitas enfermidades infecciosas, e dentre as vacinas só as de febre amarela e da hepatite tipo ‘A’ são eficazes e recomendadas. Portanto a orientação se fixa em medidas de proteção contra as picadas de insetos: o uso de roupas claras, calças e camisas de mangas compridas, e evitar sair ao amanhecer e entardecer quando os insetos estão a toda.
Além disso, usar repelentes com DEET (Di-Etil Etil Toluamida) na concentração de 35%, (nesta proporção o repelente é eficaz durante quatro horas, enquanto os mais comuns à venda só protegem na primeira meia hora). Considere borrifar também atrás das orelhas e pulsos. Outra medida é impregnar as roupas com o princípio ativo da Permetrina encontrada nas casas de caça e pesca, para afastar os mosquitos, e sempre que possível usar mosquiteiros. E atenção mulheres: não usar spray nem perfumes florais, que agem como imã para insetos.
2- A combinação de conhecimento e bom senso predestina os viajantes a não colocar a viagem no vermelho. Controlar a fome em determinados lugares significa não cair na malha fina de uma doença infecciosa. E verdade seja dita: na hora da gula o delicioso pode ser perigoso. A rima é para fixar na mente. Comer em barraquinhas quando um ovo coberto de moscas se confunde com quibe, e o suco “natural”, salta de uma geladeira que só serve de armário, é entregar a alma a Deus.
A dica é tomar apenas água mineral, de preferência gaseificada, pois além de difícil falsificação, tem pH acidificado, o que dificulta a multiplicação de bactérias. Legumes só cozidos e nenhum tipo de carne ou peixe cru completam a linha-dura. Tal atenção deve ser permanente.
3- Fuja das dicas imperdíveis de terceiros. “Medicinas do Viajante” de diversos países orientam fugir dos “guias turísticos” que prescrevem soluções caseiras como tomar B12 em excesso, ou cápsulas de alho para afastar mosquitos: nada disso tem comprovação cientifica, servem tanto como a estaca de madeira para cravar em vampiros. Só um médico pode avaliar cada caso e dar a medicação de acordo com as características da viagem. Outra atenção especial é dada aos diabéticos, hipertensos, cardiopatas, ou alérgicos a algum tipo de medicamento.
4- Para aproveitar o máximo um banho de rio, leve em consideração. Inclua na bagagem além do protetor solar e do chapéu, sandálias plásticas para as caminhadas à beira d´água nas praias. Vale lembrar o cuidado que o banhista deve tomar em relação às arraias semienterradas nas areias das praias amazônicas, comuns na linha da maré. Ao caminhar é ideal arrastar os pés, ao invés de pisar. Se, mesmo tomando todos os cuidados, a pessoa se machucar em contato com algum animal marinho, a orientação é não experimentar soluções caseiras e procurar assistência médica.
Como primeiros socorros, no caso de contato com as arraias, a indicação é mergulhar a área ferida em água quente por 30 a 90 minutos. O veneno desse peixe é termolábil – se decompõe com o aquecimento, e alivia a dor. O mesmo procedimento se aplica se ocorrer um acidente envolvendo bagres. Jamais usar álcool ou urina.
Acidentes com animais peçonhentos costumam ser raros, e o uso de botas é a melhor solução, assim como verificar sapatos e roupas antes de vesti-los também é uma boa. Nas trilhas fique atento quando ultrapassar troncos caídos. Se picado: não fazer uso de garrote, não sugar o veneno e de novo, nada de soluções ou remédios caseiros.
5- Antes de viajar. Deve-se buscar aconselhamento junto ao Núcleo de Medicina do Viajante de três a quatro semanas antes da viagem, pois no caso da exigência de vacinas, este é o tempo recomendado. Durante a consulta médica, que dura em média quarenta minutos, o profissional esclarece e alerta sobre os riscos relacionados ao destino. Outra área de atuação do Núcleo é também a assistência no retorno do viajante.
Mais informações: Núcleo de Medicina do Viajante do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, tel. 11- 3896-1400, www.emilioribas.sp.gov.br/pacientes-e-acompanhantes/medicina-do-viajante/ e/ou www.cives.urfg.br, no Rio de Janeiro.
Boa Viagem!
Assista também o vídeo com as dicas do Prof. Dr. Marcus Vinícius Silva
Matéria publicada originalmente no nosso blog Viagens Plástyicas do Viagem Estadão