Viajar é a arte do improviso. O destino final não é tão importante quando ficamos ao lado das descobertas. Assim, o acaso de uma viagem levou-me ao “Projeto Eden”, em St. Austell, vilarejo localizado na Cornualha, um condado a sudoeste da Inglaterra. Ali pude constatar in loco que nunca devemos subestimar o poder de um pequeno grupo de pessoas que se reúne para mudar o mundo.
De imediato a visão de suas instalações de tão futuristas, me fez imaginar que cheguei a uma colônia de extraterrestres em outra galáxia. Mas o que vinha a ser aquelas enormes estruturas que se formam naquele extenso e belo jardim? Na verdade são oito gigantescas cúpulas revestidas de plástico que deixam passar a luz solar e ainda servem de isolamento térmico, interligadas para formar a maior ‘greenhouse’ do mundo. Uma delas mede 100×200 metros de área por 60 de altura, e na opinião de Dan Ryan, um de seus diretores, o Eden é um Jardim Global.
No interior das estufas dois biomas se mostram bem representativos: o ‘Mediterrâneo’ com plantas provenientes da área homônima, bem como da Califórnia e da África do Sul, e o da ‘Floresta Tropical’, com plantas da Amazônia, Malásia e África Ocidental. Um outro bioma, este a céu aberto, se dedica às espécies vegetais da própria Inglaterra e de outros países europeus com o mesmo clima.
A grandiosidade no interior das estufas surpreende não só pelas plantas e suas variedades, mas pela atmosfera que as envolve. No caso da ‘Floresta Tropical’, não será uma surpresa se em determinado momento começar a chover, ou desse para ouvir uma cascata ao longe. Tudo ali é feito para criar um ambiente tropical, o que também vale para o incômodo calor.
Contudo, o Eden não é um jardim botânico. Ele vai muito além. Está na linha de frente ao ser complementado por uma instituição educacional, e empreendimento social. Seus projetos desenvolvem ideias de como as pessoas podem mudar as coisas para melhor, tendo a natureza ao seu lado.
Também promove palestras sobre a questão ambiental planetária, e eventos que visam provocar debates e contribuir para o conhecimento e a conscientização sobre mudanças comportamentais consideradas imprescindíveis – de governos, empresas e indivíduos – para o futuro da Terra.
Mas, o que mais me chamou a atenção foi a história que está por trás desse grande empreendimento. No início da década de 1990, St. Austell enfrentava grave crise econômica com o fechamento de suas afamadas fábricas de porcelana. A mina de caulim, de cuja jazida se extraía a matéria-prima, também encerrou suas atividades. Para piorar, deixava para trás uma paisagem devastada por enorme cratera de 50 metros de profundidade. O pesadelo era ainda maior, pois a Cornualha é um dos condados da Inglaterra onde há menos oportunidades de empregos, o que fez crescer em muito o número de desempregados.
Vivendo sob os efeitos desse clima, um pequeno grupo de pessoas, tendo a frente Tim Smit, se reunia – não menos em um pub – a fim de buscar soluções que ajudassem a população a sair do buraco. A ideia era reurbanizar a área degradada da mina de caulim transformando-a em símbolo de regeneração, além de gerar novas oportunidades de emprego.
A proposta se baseava na construção de um Jardim Botânico, não só para ser admirado por sua amostra de plantas e por bela construção de vanguarda, mas que de tabela também pudesse educar as pessoas a reconhecerem os problemas da natureza e dar soluções como respostas. Nascia assim o “Projeto Eden”.
Mais informação: edenproject.com